mandinga

May 23, 2008

Racismo aqui e acolá, na escola Waldorf não vamos mais ficar …

Filed under: ALEGORIAS MANIFESTANTES,General — mandinga @ 7:04 am

Saravá, minha gente !

             Hoje participamos da
palestra Fundamentos e Aplicações da Pedagogia Waldorf, na Escola Moara, aqui
em Brasília. Não nos surpreendemos em, mais uma vez, não obtermos uma resposta
que escape do plano metafísico sobre mecanismos disciplinares utilizados pelas professoras
e os castigos aos quais nosso filho é submetido na escola, muitos destes
sequer somos informados.Bem como, mais uma vez, nos foi dada uma resposta
metafísica sobre o fato de muitas crianças não terem lugar de fala garantido no
cotidiano escolar, quando relatam, por exemplo, o desagrado com o corpo
docente, ou a rotina escolar.

             Agora o que mais nos surpreendeu,
na ocasião, foi a absoluta ausência de ações para  implementação da lei 11.645/08 na perspectiva
pedagógica da Moara (a referida Lei  prevê a inclusão de conteúdo afrobrasileiro  e indígena nos currículos escolares) . Tal
fato, confirmou  conjunto de ações que
presenciamos em prol da  omissão e 
censura  na  criação de um processo  coletivo  que aborde
este tema. O que significa uma irresponsabilidade da comunidade escolar,para
com a luta contra o racismo.

              Camuflada  no tecido social ao qual se insere a
comunidade da Moara, a prática  do
racismo, sempre foi para  nossa família
uma das formas mais cruéis de humilhação 
da existência humana. E  a luta
para que esta forma de violência, na maioria das vezes sutil e imperceptível,
não se perpetue em nossa sociedade é prática cotidiana em nossas  vidas. Portanto, esta Lei pela qual lutamos é
de fundamental importância tanto para nossa família, quanto para sociedade que buscamos
construir.   

               Antes de entrarmos na escola, já
sabíamos do fato das crianças, até certa idade , não utilizarem preto enquanto
desenham, pois o Preto é a ausência de cor na perspectiva antroposófica. Mesmo assim,
resolvemos fazer parte da comunidade Moara, depois de insistirmos que  a depreciação da diversidade racial e cultural
brasileira é incabível em nosso cotidiano e de ter –nos sido garantido o respeito
a nossa prática de vida muito ligada as nossas 
raízes afrobrasileiras e indígenas, a qual nos orgulhamos muito.

               Em 2007,  tomamos conhecimento de que em uma outra palestra
uma professora afirmou que não havia conteúdo indígena porque na Moara eles só
ensinavam conteúdo de povos evoluídos. O fato 
nos indignou, tamanha a  demonstração de ignorância para com as
centenas de povos que formam  o povo
brasileiro. E muitos dos quais vivenciaram na prática  valores matriarcais, horizontais e de autogestão.

            
  Valores estes que são
transformados em conceitos e alienados dentro da Escola Moara, que por exemplo,
prega o consenso em suas instâncias, mas esquece que o mesmo deve ser
construído e não imposto. Justamente, neste ponto é que a Escola é  um simulacro: ao negar o contexto social ao
qual se insere e dissimular sobre seus reais desafios para com sua comunidade.
Pois, todo processo comunitário  requer
construção e sem comunicação e responsabilidade para o bem comum, pouco se
constrói.

                  Hoje, infelizmente,
presenciamos mais um episódio nesse sentido na Escola Moara. Não bastasse ser
um episódio racista, portanto criminoso, foi também mais uma oportunidade de
garantir a fala de quem já tem o lugar de fala garantido (reforçando autoritarismo) e de
claro simulacro de prática dos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade tão citados pela tal filosofia antroposófica.Pois,
acompanhamos recentemente, em nossa turma, a saída cruel de dois meninos, por
falta exatamente de mais fraternidade, igualdade e liberdade na referida
comunidade. Após a explanação das palestrantes, quando fiz perguntas objetivas
sobre o cotidiano escolar, tais como as medidas disciplinares aplicadas, o
lugar de fala das crianças e a implementação da Lei 11.645,  fui em um tom de voz arrogante, convidada a
mudar para a pedagogia construtivista, pelo Dr. Paulo Tavares.

                    Como naquela manhã de
sábado resolvi me dedicar a entender a pedagogia Waldorf insisti em  construir um espaço qualificado de debate
sobre a tal perspectiva que nossa família estava inserida e ajudando a dar vida.Reforcei que não estava ali para debater o construtivismo e sim a
pedagogia Waldorf. Quando questionei sobre o ensino do conteúdo afrobrasileiro
e indígena na escola (que reforçamos, não é uma opção da Moara,mas sim,uma Lei,
um dever, uma obrigação) nos foi dada a seguinte resposta pela
professora palestrante :

                  "No primeiro ano
contamos apenas contos de fadas, no segundo ano contamos historinhas sobre
passar a perna no outro, estas coisas mais maliciosas…, no terceiro ano
começamos com as histórias dos bichos, no quarto introduzimos  as histórias dos monstros e a partir do quinto
ano é que contamos as histórias dos negros "

                 Fiquei bastante
intrigada com esta escala de valores.E recebi a seguinte resposta: é que até
esta fase a criança só pode receber o que é Belo. Ou seja, mais uma vez, a
depreciação à cultura indígena e afrobrasileira é socialmente difundida e
reforçada na escola. Pois, toda infinita diversidade e possibilidade de
conteúdo da nossa cultura é considerada desprovida de beleza  compatível
com  a praticada na Escola Moara. (Aqui cabe um parêntese, não falaremos
da pedagogia Waldorf, mas da experiência prática que vivenciamos)

                  Portanto, gostaríamos
de reforçar que racismo é crime. E  não compactuamos, com o fato de em
2008, estes resquícios da subjetividade paternalista colonizadora européia que
– subjulga a beleza e força da nossa raiz racial e cultural – estarem vivos e
legitimados, disfarçados de proposta pedagógica.

                    Em determinada parte do
debate fomos surpreendidos  com mais uma
frase do Dr. Paulo Tavres: “é por isso que essa pedagogia não é pra vocês”.
Finalmente um consenso, ainda que imposto, e portanto ilegítimo. Nos desligamos
da escola Moara com São Benedito em nossos corações.E  na responsabilidade de impedir que este tipo
de prática se perpetue disfarçada de pedagogia alternativa. Aliás, justificativas
metafísicas para garantirem práticas racista no contexto escolar, me remetem ao
tempo em que os povos africanos e indígenas eram escravizados perante a
justificativa de que esta seria a salvação de suas almas…

                Enfim,
muitas questões para refletirmos e nos posicionarmos.

Aquele abraço,

Juliana, Bruno e João Pedro

 

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