mandinga

December 20, 2012

Obvianas… ou dialética etílica panfletária

Filed under: ALEGORIAS MANIFESTANTES — mandinga @ 9:38 am


Tenho uma amiga negra. Bebemos, comemos e falamos palavrão. Somos balzacas, bondosas, generosas,bonitas, sábias, trabalhadoras, espiritualizadas, engraçadas. Em espaços públicos somos abordadas, em nossa hora feliz. Chamo de hora feliz, pois é justamente com esta amiga que tenho a qualidade de compor… os melhores insights e as melhores gargalhadas. Planejamos e celebramos nossas atitudes. Hoje filosofamos sobre ansiedades, sobre nossos relacionamentos, sobre a morte (sim, minha amiga ficou viúva recentemente), filmes, discos, receitas, filhos, homeopatia… estávamos quase finalizando nosso momento… quando de repente, mais uma vez, a fatídica abordagem…

Bom, sempre começa com um papo trivial. Daí, num pulo segue para algo agressivo, sobre a luta das mulheres e/ou negritude. Dai, somos impedidas de contra argumentar, porque a pessoa que nos aborda não deixa que sequer possamos falar. Ela fala em voz alta, sem nenhuma trégua. E pra provar o quanto é bem mais inteligente do que nós, rola uma afirmação sobre fatos históricos e personalidades deste mundão… Pronto, interromperam nosso rango, nosso drink, nosso clima. Ficamos mudas, respondendo apenas com a cabeça, com bicos, olhares, caretas…

Até que minha amiga se exalta… e mais uma vez, lá vamos nós… afirmar que não comemos criancinhas, que não temos ódio de homens, de brancos. Lá vamos nós… pra mais uma discussão. Lembrando que, a proporção de tempo de fala é bastante desigual entre as partes. A esta altura já estamos revisitando nossa real, nossas raízes, nossas cicatrizes. Minha amiga reivindica no berro a chance de responder as acusações, elocubrações e construções … Escrevo porque esta cena (mais uma vez acabou de acontecer) e nesta noite foi nesse momento, nesse exato momento, depois de uma jornada árdua de trabalho, que olhei pra minha amiga, linda, corajosa, exausta… e tive uma enorme vontade de abraça -la e pedir desculpas. Porque já não podemos sequer jantar em público, sem a patrulha…

Me questiono se a abordagem é proposital. Porém, fato é que ao termos mais consciência, conquistas, escolhas e valores sobre a sociedade que precisamos, devemos, queremos, podemos e merecemos viver e construir – somos ainda mais catucadas, sondadas… E este sempre alerta cansa. E, às vezes, pira… noutras, condiciona. Penso que se fossemos uma instituição seríamos ao menos remuneradas… mas não (ou #soquenao, para tempos modernos) ! Investimos nosso tempo, conhecimento, talento… pra nos livrarmos. Queria ter uma bomba de fumaça ninja, nestes momentos… Recentemente, ficamos mais em casa, e revisitando este tipo de situação acho que é pra evitar a perturbação.

Sei que vamos pro desenrolar dos fatos. E pedagogicamente vamos afirmando, visibilizando, reforçando quem somos e porque lutamos. Panfletárias… talvez. Só que bastante certas da nossa força. A palavra, nosso poder. E bom, em nossas experiências vividas somos da geração que aprovou as cotas na UnB, montou rádios livres, plantou a permacultura, o passe livre, a marcha das vadias, cineclubes, audiovisual popular, bicicletadas, defendemos território indígena, quilombolas, políticas de saúde mais decentes… só pra citar o que plantamos e colhemos. Pra reforçar que existem muitas lutas, pra além do que publicam nos jornais. E nesse momento quero abraçar minha amiga por termos sobrevivido e mais ainda conseguirmos estender a mão, o coração e o ventre…

Dai que já estamos em um nível da tal conversa em que conseguimos falar. E sermos ouvidas. E conseguimos mostrar que as micropolíticas existem, horizontalidade, autonomia, autogestão estão vivas e cada vez mais fortes. E não estamos falando de simulacros de redes – que na verdade, surgiram usurpando mentes e corações, para manter a ordem vigente. Necas ! Falamos de algo orgânico, coletivo, pulsante que vivemos e somos. E esta força é imortal. Adiante, já conseguimos ficar mais a vontade. Sim… nossa cumplicidade é também nossa ação afirmativa. Estendemos mais um bocado a conversa. E nossas companhias, neste ponto sentem um tipo de encantamento. Parece que buscavam por nossas histórias e por nossas verdades há tempos. Me questiono aqui se esta busca tem que sempre ser tosca, mas … fato é que desmontamos o ataque.

E bom plantamos mais idéias, ganhamos mais amigos. E, acaba que transcendemos as provocações… e conseguimos voltar ao diálogo e quem sabe rende uma hora feliz, numa outra hora qualquer… sim, isso já aconteceu com alguns “abordadores”. E agora quero abraçar minha amiga por ser presente, paciente, prudente, posicionada. Quero abraçar mais ainda pela força do que tem que acontecer, por estar nas ruas, nos bares, pronta e sagaz pra qualquer investida que insista em deturpar quem somos e o que podemos ser. Quero abraçar minha amiga porque sua alma e imaginário trabalham sempre curando, porque é disciplinada a favor da vida das mulheres, da população negra…

Quero te abraçar Sabrina, porque você faz com que nosso território esteja protegido, encantado e fértil… por cuidar de mim e por cuidar da gente. #venceremos

December 12, 2011

Mulheres no Volante em Brasília

Filed under: ALEGORIAS MANIFESTANTES — mandinga @ 1:56 am

http://blogueirasfeministas.com/2011/12/mulheres-no-volante-em-brasilia/

August 3, 2011

PRECISAMOS ABORTAR O AI5 DIGITAL

Filed under: ALEGORIAS MANIFESTANTES,General — mandinga @ 11:57 am

Uma cultura que muitas buscaram: hoje milhões de mulheres possuem seus próprios espaços na internet. Fizemos nossos telhados e jardins de expressão. Muitas trocam informações e conhecimento na rede. Tantas outras têm perfil no Twitter, Facebook, Orkut (isso sem citar as ferramentas livres). As redes sociais são praças. Hoje nós mulheres andamos de dia e de noite, pelas praças do mundo virtual. E voltamos pra casa quando bem entendemos.

Porém, nem todas conseguem usufruir da liberdade de criação e expressão na rede. Ainda temos muitas barreiras para derrubar quanto nossa vida expressiva no mundo virtual. Sabemos que poucas mulheres são programadoras, compreendem como funcionam os computadores, ou devido as múltiplas jornadas de trabalho conseguem tempo para navegar e aprender . Ainda temos muitos desafios de emponderamento na rede. Estamos justamente em várias frentes de batalha pela apropriação tecnológica e inclusão digital de mais mulheres.

O desafio de nos apropriarmos da tecnologia como forma de emponderamento e libertação ganha mais um agravante de peso. Em 1999, a sociabilidade no mundo virtual era bem mais restrita que nestes meados de 2011. Existiam poucas redes sociais, ferramentas e possibilidades de compartilhamento de conteúdo e bens na rede.

Mas, já nascia no Congresso uma proposta para penalizar “crimes” na internet PL 84/99 de autoria do então Dep. Luiz Piauhylino (PSDB/PE). Atualmente defendido pelo Dep. Azeredo (PSDB- MG), e por isso, batizado de “Lei Azeredo” – e também conhecido como AI5 digital, em referência aos cortes de direitos civis, como ocorreu durante a ditadura militar brasileira. Uma nova proposta de Lei para limitar nossos fluxos e impor margens as nossas corredeiras.


TecnoGINECOlogia ao PL 84/99 :

A Câmara dos Deputados pode encaminhar para votação o Projeto, nos próximos dias. Caso seja aprovado, seremos todas suspeitas e vigiadas pelo Estado. Apertando mais ainda as amarras sob nossas subjetividades e pertencimento cotidiano. Se atualmente, já somos massivamente estereotipadas, corremos o risco de sermos ainda mais:

:: SONDADAS ::

– A maneira como criamos, produzimos e compartilhamos pela rede será limitada

– As investigações policiais, de possíveis crimes, serão extensivas e partirão do princípio que somos todas criminosas

– Poderemos distribuir menos sinais, programas, conteúdo, dados e informações

– Nossos limites serão impostos pelo texto da Lei

– Ficará instaurado sistema de vigilância sobre nossas ações

– Seremos pressupostamente criminosas e/ou suspeitas

– Acontecerão coisas do tipo julgar se um dado eletrônico é legitímo, ou não.

:: AMEAÇADAS ::

– Compartilhamento de culturas, criações e suas reproduções e mixagens serão punidas e criminalizadas

– Haverá retrocesso na diversidade do que somos e do que podemos ser

– Os provedores poderão armazenar nossos dados e logs

– Em nosso direito inalienável a liberdade de expressão – conforme art. 5 da Constituição

– Subjetividades, pluralidades e convergências de imaginários ficarão sob vigilância

– Mais uma vez seremos ensinadas a temer

– Seremos punidas e criminalizadas por liberar ou desbloquear modens, celulares, etc

– Risco `a cultura que criamos de colaboração e confiança

:: ROUBADAS ::

– Lucro das empresas de segurança virtual vai imperar e ditar regras de comportamento na rede

– Nosso direito a privacidade vai ser desrespeitado

– A inclusão digital de mulheres e a apropriação tecnológica ampla, ficará inibida

– Possibilidade de debates, de trocas, de acessos que ocorrem na esfera pública, especialmente sobre temas “polêmicos”, poderá ser manipulada e controlada

– Direito nosso: tipificação de crimes prevê criminalizar condutas apenas de bens jurídicos relevantes e de interesse de todos os cidadãos e cidadãs, e o PL falha nesse ponto

– Direito nosso: Lei Penal tipifique crimes de forma clara e restrita, o que não ocorre com o texto da Lei Azeredo

– Direito nosso: Liberdade e conhecimento

:: SEDUZIDAS ::

– Segurança virou mercadoria, portanto venderão muitas promessas de felicidade em nome da segurança

– Nos confundem e afirmam que a liberdade na internet é responsável pela pedofilia, por exemplo.

– Nos manipulam e dizem que a liberdade na internet é responsável pelos estelionatos

– Nos mentem e dizem que nosso dinheiro no Banco vai ser roubado, porque nossa internet é livre

– Nos enganam noticiando uma ciberguerra, ataques e vírus na rede que não existem

– Ficaremos amedontradas o que interfe na gestão de nossos tempos e talentos

– Poderão nos domesticar com mais facilidade em nossas vivências virtuais

– Nos manter com medo, serve para não sermos ousadas. Portanto, controladas e manipuladas

– Enfraquecerão nossas ferramentas de busca por nós mesmas e as vivências e (re) criações de nossas singularidades

Dia 13, no Plenário 13

“Conheço pedófilo real, que pratica crime real. Desconheço pedófilo virtual”, ressaltou a Deputada Manuela D’Avila (PC do B/ RS) em 13 de julho de 2011, durante audiência pública sobre o PL 84/99 . Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, a deputada defendeu direitos das pessoas de bem, perante os retrocessos previsto no projeto de Lei.
A Dep.Pérpetua Almeida (PC do B / AC) fez um pedido para que seja criado um grupo especial para tratar exclusivamente da matéria. “Sabemos que boa parte do Parlamento tem medo até de abrir email, por isso tem medo da internet” lembrou a deputada. Já Luiza Erundina (PSB/ SP) pediu a realização de um Seminário para o debate sobre o PL 84/99 – que deverá ocorrer durante o mês de agosto.
Há quem defenda o texto do projeto. Pois, existe uma “guerra cibernética” e uma tal “Political Bullying”. Ficou explícito o interesse mercadológico da sempresas de segurança sobre a pauta.
Na ocasião o Movimento Mega Não entregou ao presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática Bruno Araújo (PSDB/PE) uma petição com mais de 163 mil assinaturas contra o PL 84/99.Destacamos alguns pontos relevantes levantados sobre o tema, na ocasião:

1 – Ninguém penaliza alguém que envia um correio sem remetente. Pela lógica da proposta seria como recolher telefones públicos das cidades, porque alguém pode ligar de um orelhão sem se identificar

2 – Proporcionalidade de tempo de detenção desigual, por exemplo em caso de invasão de domicílio (1 ano e 3 meses) e invasão de site (3 anos)

3- Não houve nenhum ataque Hacker/ Cracker aos sites do governo (conforme falaciosamente noticiado pela mídia)

4- A tecnologia na verdade deve ajudar a resolver problemas (q são problemas da sociedade, ao invés de problemas da tecnologia)

5- Ainda sequer temos nossos direitos fundamentais na rede garantidos, como podemos pensar em criminalizar a rede ?

* * *

Vamos criar nossas herdeiras, nossas filhas e filhos numa época onde a internet será mais uma maneira de estar no mundo. Precisamos incentiva-las a pertencer a ele. Precisamos identificar a maneira sofisticada de dominação de nossas vidas e ensina-las a farejar, burlar e resistir. Geopoliticamente, o Brasil tem posição muito importante na gestão de culturas. Portanto, cobraremos políticas públicas condizentes ao tempo-espaço no qual vivemos e criamos. Alô, patriarcado: o conforto de poucos não será nosso silêncio. Sugerimos escrever `as lideranças dos partidos na Câmara dos Deputados e ao autor da proposta Dep. Azeredo

LINKS:

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May 30, 2011

GINECOLOGIA: Faça você mesma !

Filed under: ALEGORIAS MANIFESTANTES — mandinga @ 5:18 pm

Hoje fui a farmácia. Queria presentear as maravilhantes que convivo, fazer aquele dengo – surpresinha. Juntas trocamos horas de prosa, de sonhos, de sabedorias. Nas minhas horas vagas costumo brincar com vídeos e nomei o brinquedo de “vê se te enxerga produções” . Muita gente acha agressiva a expressão. Na real, uma das intenções do nome é reforçar que vale a pena cada pessoa se conhecer, olhar, perceber, enxergar. Esse descobrimento de si mesma é fundamental pros nossos exercícios de emponderamento… constantes, neh ?

Tão agradável se tocar, ver, descobrir. Então, que tal unir o útero ao agradável ? Sim, que tal conhecer o próprio útero ? Tão poucas viram o próprio útero. Por que passamos tantos anos pra descobrir nossos corpos ? Especialmente, vagina , ovários, útero…. O que trazemos mesmo entre as pernas ? Um mundo de prazeres, cores, texturas. Mundos de vida ! Mas, quem já viu ? Seu/ sua ginecologista ! Eita quer dizer que esta parte tão mimosa do seu corpo um estranho já viu e vc não ? Beleza, ginecologista é cuidado imprescindível com si mesma. Mas, reconhecer sua vagina além de um cuidado, é ato de amor consig@.

Hoje, dia de luta pela saúde da mulher presenteei as amigas com um kit deste hábito de amor: GINECOLOGIA – FAÇA VOCE MESMA ! Lanterninha, espelhinho e espéculo vaginal. Com estes objetos vc pode além de conferir lábios, canal, pele… dizer olá a seu colo do útero. Aprendi com uma ginecologista feminista numa edição do Carnaval Revolução, há uns anos. Com esta visão além do alcance, acompanho meus ciclos, ritmos, cheiros, frescores. Assim, eu mesma posso conferir, as muitas possibilidades do meu corpo.

E dependendo de como estiver o horizonte posso tomar aquele chá, fazer aquele banho de assento, aquela compressa… Meus favoritos são chá de artemísia, chá de gengibre, compressa de alho, inhame, vinagre, espinheira santa, camomila. O próximo post vai ser sobre dicas de preta-velha pra mulheres que se cuidam e amam.

Óbvio que esta festa consigo mesma, não significa abrir mão dos exames e consultas ao ginecologista, já que nem todas as nossas possibilidades são visíveis a olho nu. Manter em dia exames, vacinas, consultas.O ideal é descolar uma ginecologista bacana que respeite e oriente de forma responsável (de preferência feminista hohoho !). Mas, nada como se autoexaminar e conhecer o próprio corpo… ou quero mais saúde !

Quem precisar de um kit e dicas de como se autoexaminar manda um alo ! E tem mais links sobre o tema, ó:

http://pt.scribd.com/doc/88917/Hotpantz-Herbal-Gynecology

http://www.beautifulcervix.com/cervix-photo-galleries/photos-of-cervix/

http://aterraviva.com/blog/

https://lists.riseup.net/www/d_read/icamiabas/

http://www.anarcha.org/sallydarity/atf4.html

May 2, 2011

Cultura cultua sentidos… sobre gênero e poder

Filed under: ALEGORIAS MANIFESTANTES — mandinga @ 10:03 am

Tá vamos falar de gênero… ah ! mais uma vez ? Oh Yeah ! Leio o mundo nesta perspectiva… e agora já era ! Essa deixa inicial é pra satisfazer a banda de gente que me xaropa por conta deu ser … feminista ! (depois farei um post exclusivo sobre a patrulha). Bora lá nesse:

Tava em Sampa no trânsito, som do carro começa a passar uma propaganda da SPM sobre as possibilidades das mulheres. Sem imagem, a narrativa em áudio da peça publicitária foi nocaute. Parecia que estava vivendo no cobiçado tempo da igualdade de gênero neste país. A chamada passava algo de: “parabéns mulher, finalmente vc pode tudo”.

Precisamos reforçar nossa autoestima, mas sem maquiar realidades. Fui investigar e percebi que sim, tinha mesmo escutado a campanha e se tratava de uma iniciativa da SPM. E não só isso, compas feministas me enviavam o vídeo como uma conquista. Logo manifestei meus poréns sobre a peça e minhas compas tinham leituras distintas das minhas. Então, me predispus a fuçar melhor minhas angústias, do quanto aquilo me parecia ” o caô no baile” do momento.

Ganhamos possibilidade de algumas mulheres estarem no poder – inclusive como presidenta – isso visibiliza possíveis. Mas, não revela sobre circunstâncias de como chegamos a estes espaços – consentidos ou conquistados ? E nas ruas, praças, esquinas, bares, noites quantas conseguem caminhar livremente ? São tantas variáveis desta chegada ao poder… Em nossos imaginários o que construímos com estas imagens ? Bom, espaços que foram construídos por regras e rédeas do patriarcado, agora conduzidos por mulheres. Muitas vezes, ocupados por mulheres que não têm compromisso efetivo com questões de gênero. Mas, que usufruem de conquistas de tantas que há séculos lutam pelos feminismos.

Devemos e precisamos como “base social” colaborar na formulação de políticas públicas, especialmente as voltadas para gênero. Assim como, pretendemos ver o orçamento para políticas públicas de gênero crescer e sua execução ser garantida. Mas será que podemos ? Afinal, o que podemos ? Penso em dois casos recentes de mulheres que ganharam a esfera pública uma como candidata ao governo do DF. Usada pelo marido, que teve a candidatura impugnada. Devido a seu despreparo foi chacoteada pela mídia e redes sociais. Pra mim, um dos casos de violência simbólica mais gritantes dos últimos tempos. Outro exemplo, é a primeira Ministra a ocupar a pasta da Cultura. Explicitamente despreparada para o cargo, segue entre atropelos no Poder. Penso em tantas mulheres que poderiam contribuir com a Ministra. Mas, que mesmo tendo mulheres em sua assessoria segue vacilando. Dai, reforço que deveríamos mesmo começar a pleitear que nossas representantes no poder estejam compromissadas com os movimentos e redes de mulheres.

Por que topamos ser fantoches de um jogo que não precisamos jogar ? E o quanto o fato de ser uma MULHER faz a chacota render mais ainda? E até que ponto ao despreparo fica atrelado a suposta incapacidade de gerir ? Gostaria de reforçar para todas que ocupam cargos de poder neste país, que podemos mudar as regras e o jogo. Sequer jogá-lo. E mais ainda que estamos em solidariedade mútua e que podemos ajudar técnica, psíquica e emocionalmente.

Percebo que gestoras comprometidas com questão de gênero, exercem melhor suas funções no poder público. Vamos celebrar nosso protagonismo, autonomia, liberdades. E junto a isso escrever novas regras ao jogo… queria escutar mais e melhor sobre desenvolvimentismo. Queria conhecer mais economistas feministas. Queria uma internet feita por mulheres. E sem que pra isso tivéssemos que nos desemponderar. Conheço várias mulheres que exercem cargos de liderança e que precisam de vez em quando pedir desculpas por isso. Ou seja, pedir desculpas por ser boa. Ou sabotar algum outro aspecto da vida por ser boa e poderosa. E muitas vezes além dela mesma se sabotar, outras variáveis vão atuar para expor suas vulnerabilidades. Precisamos de mulheres nas esferas de poder, mas precisamos também reconstruir as regras.

E a todo momento questionar PODER: indagar, examinar, experimentar e teorizar. Especialmente, quando é forçoso servi -lo. E quando necessário servi-lo, buscar valores solidários. Seria nossa cultura de Poder… Precisamos recriar o Poder como forma de libertação, de uma, de todas.

… tentando desembuchar sobre governanças…. pelas passadas, presentes e futuras !

February 9, 2011

Mulheres da Cultura

Filed under: ALEGORIAS MANIFESTANTES,General — mandinga @ 6:56 pm

queria subir esse conteudo primeiramente no imaginarios.net – em homenagem ao DP, que partiu. Mas ainda, de onde está, nos envia muita força pra sermos mais livres e plenas.

Trata-se dos princípios do Mulheres da Cultura. Para todas as que buscam plenitude em suas vidas cotidianas e nos seus fazeres criativos… avante !

MULHERES DA CULTURA

1 – MISSÃO- entendendo missão como nossa razão de ser:

– estimular, garantir e defender a participação feminina na cadeia produtiva da cultura, com respeito e igualdade. Agregar a Cultura valores que propiciem imaginários e comportamentos que valorizem o gênero feminino. Buscar a emancipação e sustentabilidade de mulheres pela cultura.

2- VISÃO – entendendo visão como onde queremos chegar:

– Ser rizoma de micropolíticas que garanta sustentabilidade, solidariedade e liberdade de ações em gênero e cultura. Bem como, fomentar , pleitear e implementar políticas públicas que garantam sustentabilidade as iniciativas de cultura e gênero.

3- Carta de princípios:

CARTA DE PRINCÍPIOS

01 – Garantirmos a participação feminina na cadeia produtiva da Cultura. Focarmos na condição feminina, em seu emponderamento, autonomia, plenitude, igualdade e justiça.

02 – Incentivarmos e viabilizarmos ações culturais focadas em gênero e sempre que possível ter o gênero feminino como condutor das nossas realizações

03 – Otimizarmos em nossos trabalhos e atividades da cultura, valores que discutimos no #mulheres da cultura, uma vez que influenciam imaginários e comportamentos

04 – Atuarmos em Cultura e gênero com altruísmo, ética e honestidade

05 – Estudarmos, desenvolvermos e efetivarmos nossas ações na perspectiva da economia criativa.

06 -Sermos uma coletividade de reflexão.Discutirmos e compartilharmos saberes. Criarmos espaços de discussões, debates, idéias para trocarmos e socializarmos conceitos e conhecimentos.

07 – Socializarmos tecnologias, conhecimentos e saberes técnicos.Possibilitarmos formação, capacitação e trocas.

08 – Trabalhar quebra de paradigmas, visando a igualdade de gênero. Formular ações para capacitação e formação de mulheres em áreas onde pouco somos representadas;

09 – Sensibilizarmos os demais segmentos da sociedade quanto ao gênero feminino na cultura. Discutir, propor e realizar ações que incentivem as mulheres da cultura em seus empreendimentos

10 – Buscarmos sempre novas maneiras de fazer culturas, viabilizarmos gestões e gestoras femininas

11 – Ampliarmos o empreendedorismo feminino na cultura e socializarmos suas potencialidades

12 – Realizarmos as transformações necessárias para vivermos nossas vidas de maneira sustentável.

13 – Trazermos à tona ações em prol da cultura nas ruas. Lutarmos pelos espaços que fomentem os arranjos locais e contra o sucateamento e marginalização dos espaços culturais;

14 – Discutirmos e defendermos a criação e manutenção de políticas públicas para as culturas

15 – Incentivarmos a diversidade de mulheres. Reunirmos mulheres de diferentes contextos territoriais, raciais, econômicos, sexuais, sociais e profissionais, bem como das diversas áreas de atuação cultural.

16 – Celebrarmos os intercâmbios, agregarmos valores e militâncias, desenvolvermos ações coletivas, com acolhimento, respeito, união, cuidado, solidariedade entre mulheres;

17 – Prezarmos pela diversidade e respeito. Fazermos com que as diferenças sejam um fator motivador para nossa atuação

18 – Agregarmos todas as expressões culturais, sem excluir nenhum segmento

19 – Refletirmos para desenvolver a cadeia produtiva e possibilitarmos a capacitação criando vínculos e estabelecendo relações de confiança entre as mulheres;

20 -Garantirmos visibilidade aos nossos projetos, coletiva e individualmente; potencializarmos e difundirmos as estruturas que construímos e as que vamos construir

21 – Realizarmos empreendimentos de grande e pequeno porte, com capacitação para profissionais que atuam nos mesmos

22 – Elaborar projetos e diálogos institucionais. Atuarmos junto aos governos locais e nacionais pela viabilização de políticas publicas

23 -Dialogar com empresariado, gestores e políticos para apresentarmos nossas propostas e projetos em prol da cadeia produtiva da cultura

24 – Viabilizarmos parcerias com instituições de ensino e pesquisa

25 – Buscarmos a realização de iniciativas que unem educação e cultura, especialmente as voltadas a rede pública de ensino

26 – Garantirmos acessibilidade de portadoras e portadores de necessidades especiais , às nossas atividades

27 – Sermos protagonistas de nossas histórias, e de nossos cotidianos de criarmos Culturas

November 26, 2010

hospital psiquiatrico

Filed under: ALEGORIAS MANIFESTANTES,General,NA AVENIDA,PERSONAGENS — mandinga @ 6:04 am

… fim da violência contra mulheres, em especial nos hospitais psiquiátricos !

Filed under: ALEGORIAS MANIFESTANTES,General,NA AVENIDA,PERSONAGENS — mandinga @ 5:47 am

Mandinga ! Passei meses acompanhando de perto este caso que relato abaixo. Muito pouco se fala sobre a realidade das mulheres nos hospitais psiquiátricos. Acompanhei MHRA durante as semanas que passou no HPAP no DF. Nestes dias ela foi humilhada, usada para experimentações da equipe médica do “hospital”, agredida, roubada e por fim, estuprada. Sem a menor chance de defesa. Por todas as que estão nos hospitais psiquiátricos, segue este relato. Ao combate ! #fimdaviolenciacontramulher

RELATO DE CASO – ” eu não sou tão biruta assim”

A MHRA, 39 anos, foi internada no Hospital de Pronto-Atendimento Psiquiátrico (HPAP) em Taguatinga – DF, no dia 12 de junho de 2010. Eu, SAL, sobrinha da paciente, sob orientação de um psiquiatra externo que iria consultá-la naquele dia, levei minha tia para avaliação no pronto-socorro do HPAP, pois há 3 dias estava muito agitada, agressiva, desorientada, logorréica, disártrica, sem dormir e sem se alimentar. Na ocasião ela fazia uso das seguintes medicações: Risperidona 3mg, Topiramato 150mg, Meleril 300mg, Trometazina 25mg e Dormonid 15mg (caso insone). Esse esquema terapêutico foi prescrito pelo psiquiatra da Mansão Vida que tinha dado alta a ela há 5 dias. O médico que nos atendeu no HPAP disse que seria necessária a internação para ajustar as medicações e tentar tirá-la da crise, e informou que normalmente seria uma internação breve.

Vale ressaltar que MHRA sempre apresentou um retardo mental, com dificuldades para o aprendizado formal da escrita e cálculos, porém sempre foi funcional para as atividades de vida diária, tranqüila, comunicativa. Ela tomava medicações controladas, mas sua mãe uma senhora de 83 anos, muito simples, achou que ela estava dormindo muito e engordando e sem consultar ninguém, retirou o Diazepan , motivando o início da crise que motivou a sua primeira internação. ela foi lavada à Mansão Vida porque seu irmão conseguiu um considerável desconto por ter sido segurança lá. Porém, quando ela c omeçou a dormir e a diminuir a agressividade, recebeu alta.

No HPAP, ocorreram vários fatos graves para sua segurança pessoal: seus pertences e roupas íntimas foram roubados, ela foi agredida por outra interna e teve sua prótese dentária roubada; recuperamos a prótese com outra interna em troca da promessa de uma carteira de cigarros; depois ela sofreu abuso sexual por parte de outra interna, inclusive observamos as marcas em seus seios. Questionamos a equipe sobre o fato ocoorido e recebemos como resposta que infelizmente não era possível controlá-las o tempo todo. O médico disse que era provável que tivesse ocorrido e que não seria nem a 1a, nem a útlima vez, pois as pacientes são mutio erotizadas.

Todos os dias íamos na visita e observávamos MHRA piorando. Solicitamos a alta, pois quando questionamos a sua não evolução, fomos informada de que ela na verdade, recusando os medicamentos via oral e que os medicamentos injetáveis não foram administrados porque estavam em falta. Mas, para nossa surpresa, ninguém solicitou que comprássemos esses medicamentos. E ao pedir a alta fomos informadas (eu e minha mãe) que a alta poderia ser concedida porém sem a prescrição médica. Achamos um absurdo, pois leigamente sabemos que um doente psiquiátrico não pode estar o tempo todo interrompendo e reiniciando novos esquemas terapêuticos.

Isso ocorreu no dia 24 de junho no final da tarde. O médico nos encaminhou para o serviço social, pois solicitamos então a possibilidade de acompanhá-la direto, alegando que ela não tinha nenhuma condição de defender-se dos riscos que estava exposta, pois seu retardo mental agora estava num grau grave. Após esperar uma hora, a assistente social saiu sem nos avisar por um motivo de emergencia. Mas outra funcionária conversou com alguém que autorizou o acompanhante para minha tia. Permaneci lá 5a, 6a, sábado e domingo até por volta de 20-21h, todos os dias. A enfermeira de plantão da sexta (25.06) estava preocupada com minha segurança em permanecer ali e pediu para eu conversar novamente com o médico de plantão sobre a possibilidade de alta a pedido.

Este médico, me disse que poderia conceder a alta e a prescrição na segunda-feira (28.06), caso ela viesse a aceitar e seguir a nova prescrição que ele faria. Tal prescrição consistia em 40mg de Olanzapina dividido em duas ofertas diárias, via oral, e Neozine a noite caso insônia. Comprometi-me a ficar lá pra ofertar os comprimidos pois a equipe referia que ela recusava quando eles ofertavam. Garantiu-me que os outros médicos não mudariam essa prescrição, mas me alertou que cada um tem um racicocínio diferente. Na 6a e no sábado a medicação veio certinha e a paciente aceitou sem dificuldades. Quando retornei ao HPAP no domingo cedo, fui me informar se ela havia tomado a medicação das 8h e para minha surpresa, não havia sido administrada pois estava em falta. Perguntei por que não me avisaram e pediram para comprar. Fiquei indignada, todos me viam ali, durante todo o dia; quando eu ia embora, avisava a equipe, mas ninguém avisou que faltaria o remédio novamente.

A enfermagem pediu para eu conversar com o médico de plantão mas me disse que aquela medicação estava errada para minha tia pois ela tinha retardo mental e que a medicação que tinha sido ofertada nos dias anteriores na verdade era de outro paciente. Achei completamente errado o que estava acontecendo e fui esclarecer com o médico. Eu estava bastante indignada e minha conversa com o médico não foi fácil; ele começou a gritar e estava visivelmente descompensado. Disse que não conhecia o caso da minha tia, que não acompanhava ela, que estava de plantão só de final de semana e que não podia fazer nada se o remédio havia acabado, que não podia adivinhar que eu poderia comprar a Olanzapina e já havia prescrito um novo esquema terapêuico.

Nessa altura minha tia já tinha tomado a 1a injeção de Aldol do dia, pois estava extremamente agitada. Após nós dois nos acalmarmos, ele prescreveu os medicamentos para eu comprar e propos um novo esquema com a Olanzapina, agora de 10mg ao dia, com Aldol de SOS para agitação, Ibupril para dor (ela está no período pré-menstrual) e Neozine caso insone. Coloquei todas as minhas queixas pontualmente a ele e novamente negociamos a alta a pedido. Ele me pediu para assinar o documento de alta a pedido. Assim eu o fiz, mas informei que só poderia retirá-la a partir de hoje, pois estava sem rede de apoio para onde levá-la. Ele concordou que eu poderia levá-la na segunda, mas avisou que seria outro médico que estaria de plantão. Este médico, também me orientou sobre a necessidade de fazer exames de investigação, pois ela poderia estar com alguma outra coisa causando dor e devido ao retardo e a esquizofrenia, ela não conseguiria expressar corretamente.

Perguntei se poderia colher o sangue lá, ele me informou que não tem laboratório no HPAP. Me orientou também sobre o risco da Olanzapina desenvolver diabetes e eu o informei que a mãe da MHRA é insulino-dependente. No decorrer daquele domingo, ela ficou muito mais agitada e precisou da 2a injeção de Aldol. Tomou o comprimido de Fernegan, sem dificuldade. Porém, o que ocorreu foi mais agitação, com mais confusão mental, circunlóquios, perseverações e heteroagressividade. Fui manejando com dificuldade para tentar avitar uma contenção. Deu certo. Sai de lá e outra tia (irmã da paciente) ficou com ela até 20h. Na segunda-feira, soubemos que durante a noite como a agitação aumentou, ela precisou ser contida. Durante o dia da 2a feira, ou seja, hoje, foi contida novamente e quando a acompanhante chegou, a encontrou toda urinada, amarrada na sala de contenção.

Minha família que estava se organizando para levá-la para casa e continuar o tratamento prescrito agora está com muito medo e acreditando que ela precisa ficar no “hospital”. Questionamos a possibilidade de uma transferência para um hospital onde possa ser realizado um investigação clínica e que um único esquema terapêutico seja seguido. Não consigo mais despensa no trabalho para acompanhá-la e outros membros da família também não conseguirão permanecer o dia todo com ela. Ela volta a ficar exposta a todos os riscos já relatados antes. Acaba agredindo e sendo agredida e levada para contenção, sem benefício nenhum, pois para ela não há aprendizado com essa punição. Porém, sabemos que se ela está lá sozinha a contenção ao mesmo tempo a protege e protege aos outros de novas agressões. Porém, não podemos descartar que a maneira como elas são contidas, já é uma agressão.

15 dias depois…

Seguimos na esperança de encontrar algum norte breve para ajudá-la e aliviar o seu sofrimento  e de toda família.Estamos desesperados! Minha tia foi contida duas vezes hoje. Numa delas se urinou toda. É desesperador porque não vou conseguir acompanha-la durante todo o dia pois tenho que trabalhar. Segue o relato que você me pediu. Mas, sinceramente, não temos mais intenção em deixá-la no HPAP. Conversei com minha sogra que é da secretaria de sáude de São Bernardo e ela me disse que suspeita que minha tia possa estar com hipotireoidismo agravando todo o quadro. minha tia nunca foi assim. Ela só está piorando!!! Já passou por tantos horrores nesse hospital que mais adoece do que trata. Desde a arquitetura até a interação com a equipe, tudo parece uma prisão. Não dá para ficar lá. Por favor, se for possível, você disse no email a Mirsa que se fosse caso de primeira crise sua equipe poderia acolhe-la. Pelo amor de Deus, passou excelentes recomendações sobre você e sua equipe. Nos ajude! Não nos deixe no HPAP. Refleti sobre sua proposta de tentar o ajuste medicamentoso no HPAP, mas imagino que isso deve levar dias e não poderemos acompanhá-la neste período. Já roubaram tudo dela: calcinha, vários pares de chinelo, a prótese dentária (que conseguimos recuperar), agressão física e inclusive ocorreu o relato de que  ela havia sido molestada sexualmente …. Vimos as marcas nos seios dela. Questionamos à equipe, mas ninguém viu nada e nem tem como eles verem, pois só saem daquele posto de enfermagem para medicar, conter ou avisar que é hora do lanche. No restante do tempo assistem À Tv na copa do posto.

Não sei se seria possível, mas qual seria a possibilidade do psiquiatra de sua equipe nos ajudar a fazer o ajuste da medicação em casa? Ou dela ser transferida para outro hospital?
Mais uma vez clamo a você por ajuda, que seja orientação sobre o que fazer. Mas que não seja permanecer no HPAP, pois ela não tem condições de ficar lá sozinha, agressiva, perdida nela mesma, contida de forma bruta quase que punitiva. Como ela disse ontem para mim “Eu não era biruta assim” em meio a muito choro, desespero e a crença de que vai morrer lá.

Obrigada pela sua solidariedade e compromisso em responder minhas ligações,
Abraço,
SAL

* * *

depois de muita mandinga MHRA está em casa. Mas, não esquece a violência da internação. Todas as pacientes se queixavam da prisão. Muitas sofreram violência dos maridos e amantes ao longo da vida. A sexualidade e a espiritualidade são os assuntos que mais “enlouquecem” suas trajetórias…

Brasília, 25 de novembro de 2010

May 23, 2008

Racismo aqui e acolá, na escola Waldorf não vamos mais ficar …

Filed under: ALEGORIAS MANIFESTANTES,General — mandinga @ 7:04 am

Saravá, minha gente !

             Hoje participamos da
palestra Fundamentos e Aplicações da Pedagogia Waldorf, na Escola Moara, aqui
em Brasília. Não nos surpreendemos em, mais uma vez, não obtermos uma resposta
que escape do plano metafísico sobre mecanismos disciplinares utilizados pelas professoras
e os castigos aos quais nosso filho é submetido na escola, muitos destes
sequer somos informados.Bem como, mais uma vez, nos foi dada uma resposta
metafísica sobre o fato de muitas crianças não terem lugar de fala garantido no
cotidiano escolar, quando relatam, por exemplo, o desagrado com o corpo
docente, ou a rotina escolar.

             Agora o que mais nos surpreendeu,
na ocasião, foi a absoluta ausência de ações para  implementação da lei 11.645/08 na perspectiva
pedagógica da Moara (a referida Lei  prevê a inclusão de conteúdo afrobrasileiro  e indígena nos currículos escolares) . Tal
fato, confirmou  conjunto de ações que
presenciamos em prol da  omissão e 
censura  na  criação de um processo  coletivo  que aborde
este tema. O que significa uma irresponsabilidade da comunidade escolar,para
com a luta contra o racismo.

              Camuflada  no tecido social ao qual se insere a
comunidade da Moara, a prática  do
racismo, sempre foi para  nossa família
uma das formas mais cruéis de humilhação 
da existência humana. E  a luta
para que esta forma de violência, na maioria das vezes sutil e imperceptível,
não se perpetue em nossa sociedade é prática cotidiana em nossas  vidas. Portanto, esta Lei pela qual lutamos é
de fundamental importância tanto para nossa família, quanto para sociedade que buscamos
construir.   

               Antes de entrarmos na escola, já
sabíamos do fato das crianças, até certa idade , não utilizarem preto enquanto
desenham, pois o Preto é a ausência de cor na perspectiva antroposófica. Mesmo assim,
resolvemos fazer parte da comunidade Moara, depois de insistirmos que  a depreciação da diversidade racial e cultural
brasileira é incabível em nosso cotidiano e de ter –nos sido garantido o respeito
a nossa prática de vida muito ligada as nossas 
raízes afrobrasileiras e indígenas, a qual nos orgulhamos muito.

               Em 2007,  tomamos conhecimento de que em uma outra palestra
uma professora afirmou que não havia conteúdo indígena porque na Moara eles só
ensinavam conteúdo de povos evoluídos. O fato 
nos indignou, tamanha a  demonstração de ignorância para com as
centenas de povos que formam  o povo
brasileiro. E muitos dos quais vivenciaram na prática  valores matriarcais, horizontais e de autogestão.

            
  Valores estes que são
transformados em conceitos e alienados dentro da Escola Moara, que por exemplo,
prega o consenso em suas instâncias, mas esquece que o mesmo deve ser
construído e não imposto. Justamente, neste ponto é que a Escola é  um simulacro: ao negar o contexto social ao
qual se insere e dissimular sobre seus reais desafios para com sua comunidade.
Pois, todo processo comunitário  requer
construção e sem comunicação e responsabilidade para o bem comum, pouco se
constrói.

                  Hoje, infelizmente,
presenciamos mais um episódio nesse sentido na Escola Moara. Não bastasse ser
um episódio racista, portanto criminoso, foi também mais uma oportunidade de
garantir a fala de quem já tem o lugar de fala garantido (reforçando autoritarismo) e de
claro simulacro de prática dos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade tão citados pela tal filosofia antroposófica.Pois,
acompanhamos recentemente, em nossa turma, a saída cruel de dois meninos, por
falta exatamente de mais fraternidade, igualdade e liberdade na referida
comunidade. Após a explanação das palestrantes, quando fiz perguntas objetivas
sobre o cotidiano escolar, tais como as medidas disciplinares aplicadas, o
lugar de fala das crianças e a implementação da Lei 11.645,  fui em um tom de voz arrogante, convidada a
mudar para a pedagogia construtivista, pelo Dr. Paulo Tavares.

                    Como naquela manhã de
sábado resolvi me dedicar a entender a pedagogia Waldorf insisti em  construir um espaço qualificado de debate
sobre a tal perspectiva que nossa família estava inserida e ajudando a dar vida.Reforcei que não estava ali para debater o construtivismo e sim a
pedagogia Waldorf. Quando questionei sobre o ensino do conteúdo afrobrasileiro
e indígena na escola (que reforçamos, não é uma opção da Moara,mas sim,uma Lei,
um dever, uma obrigação) nos foi dada a seguinte resposta pela
professora palestrante :

                  "No primeiro ano
contamos apenas contos de fadas, no segundo ano contamos historinhas sobre
passar a perna no outro, estas coisas mais maliciosas…, no terceiro ano
começamos com as histórias dos bichos, no quarto introduzimos  as histórias dos monstros e a partir do quinto
ano é que contamos as histórias dos negros "

                 Fiquei bastante
intrigada com esta escala de valores.E recebi a seguinte resposta: é que até
esta fase a criança só pode receber o que é Belo. Ou seja, mais uma vez, a
depreciação à cultura indígena e afrobrasileira é socialmente difundida e
reforçada na escola. Pois, toda infinita diversidade e possibilidade de
conteúdo da nossa cultura é considerada desprovida de beleza  compatível
com  a praticada na Escola Moara. (Aqui cabe um parêntese, não falaremos
da pedagogia Waldorf, mas da experiência prática que vivenciamos)

                  Portanto, gostaríamos
de reforçar que racismo é crime. E  não compactuamos, com o fato de em
2008, estes resquícios da subjetividade paternalista colonizadora européia que
– subjulga a beleza e força da nossa raiz racial e cultural – estarem vivos e
legitimados, disfarçados de proposta pedagógica.

                    Em determinada parte do
debate fomos surpreendidos  com mais uma
frase do Dr. Paulo Tavres: “é por isso que essa pedagogia não é pra vocês”.
Finalmente um consenso, ainda que imposto, e portanto ilegítimo. Nos desligamos
da escola Moara com São Benedito em nossos corações.E  na responsabilidade de impedir que este tipo
de prática se perpetue disfarçada de pedagogia alternativa. Aliás, justificativas
metafísicas para garantirem práticas racista no contexto escolar, me remetem ao
tempo em que os povos africanos e indígenas eram escravizados perante a
justificativa de que esta seria a salvação de suas almas…

                Enfim,
muitas questões para refletirmos e nos posicionarmos.

Aquele abraço,

Juliana, Bruno e João Pedro

 

March 18, 2008

Vai me calar ? Eu arredo minha antena !

Filed under: ALEGORIAS MANIFESTANTES — mandinga @ 8:36 pm

 


Transcantos da mandinga ao parceiro dragão. Ou, o dia em que eu e a
Radiola FM resistimos aos representantes dos capitalismos uniceubianos
e nossa liberdade de consentida, passou a conquistada!

 


Dia 23 de abril, dia de mandinga ! Festa na Terra pro guerreiro
vencedor das demandas. Era ele em sintonia, era meu mano, meu santo,
mano era eu. Uma chamada: ouvinte e programadora saravando ! Os ventos
sopraram, vieram me avisar: "abri os ói, buraco véi tem cobra dentro".
Mas se cobra me morde meu veneno é mais forte… tenho sete espadas pra
me defender. Cada um dos meus 250 mil óvulos, a grande célula, feitos
antes d’eu nascer, são liberados de tempos em tempos: uma força !

Me arrefiz de minha história. Geri e pari em 102,7 FM.É um sentido de
pertencimento a este mundo e constelações de vozes desde o ventre. Me
fiz Radiola, nuns cantos livres ! Mas diziam de três saúvas que eu
tomasse temência: ANATEL (cruzes ! nomão abestalhado véi !), POLICIA
FEDERAL (égua ! palavrão fei da peste)e a Reitoria (urgh ! troço
peçonhento da gota).
Por isso, sempre preparava umas esquivas e
queimava vez em quando umas brasinha, que era pra ver se mantinha as
pragas acolá. E assim era noite de encantos na mesa operando, e era
formosa de carne-e-osso, na roda dos planos de manas toda virada da
lua. Era de dentro, era de fora: voluntária!
 
E no plural um
varal: cada célula um programa, uma história. Um causo – causa: meu
coração pulsa sem $ifrão.Vieram me chamar pra roda, eu saindo de
Aruanda me acomodei livremente e segura. Mas logo percebi uma sarninha.
É que eu tinha um parceiro, daqueles que troca as cousas. Trocava P2
por RCA e eu alertando : isso não encaixa, isso silencia, isso é
bestagem…Daí deu preguiça e assuntei o parceiro:ei, me deixe seguir
livre ?
 
Eu tive que perguntar porque quanto mais o tempo passava
, mais meu parceiro se punha a me usar. "É um trocado que eu careço de
ganhar", ele entoava. "Se assossegue parceiro", eu tratava de acalmar:
"desse mundo eu já pertenço e trocado quero negar !" Porque já era
formosa livre de carne e osso ! E ele retrucava: "não sabes se
organizar !" E assim o tempo passava nessa granguena !
 
Mesmo
vindo ao mundo torta, eu já tinha asas pra voar. Sim ! Nasci da costela
do meu parceiro, pra mó dele ganhar uns tostão, mas num demorô e minhas
asas apontaram. E virei muitas, tantas vozes e donas, que meu parceiro
resolveu me livrar. E assim deixou batizar: livre ! Ele consentia , me
apropriei da ventania e me lancei nas ondas do ar !
 
De vez em
quando, me alembrava das saúvas e meu parceiro a me espiar… Mas o
mundo volta deu e o parceiro perdeu fé nas saúva e foi-se providenciar,
porque daquela liberdade farturada começou a incomodar. Aí principiou a
sarnar, disse pra eu falar o que ele queria. Eu lancei umas esquivas
que guardava pras saúvas. Ele se enfesou e nomeou alguém pra me
coordenar. Ai, ai, ai ! Isso era um derrame nas minhas transmissões,
meu coração bate porque sou autogerida e autônoma !
Daí, tive que
soltar uma esquiva bem certeira, porque essa do coordenador foi braba !
E o parceiro ficou bem parecido com saúva, um reprodutor delas ! Avisei
que ia saltar de banda daquelas prosas e as máscaras do meu parceiro
foram caindo. Era abobado e vazio, uma barreira pras minhas ondas. Foi
aí que mandei: "sai pra lá com sua bocona de mandos e desmandos" !
 
E o
$ifrão caiu na rede. E o parceiro-bicho-desmascarado se enfesou de vez
!
Quis logo me rebatizar, mas eu já formosa-livre… então livre
era ! E ele se enfurecera sem controle e aos sete ventos me excomungou.
E eu ? Eu na Aruanda, saravando, preenchendo a existência, noutras
conexão ! Meu parceiro veio na roda e trouxe dragão presidente (cruzes
nomão feio !)e ainda trouxe dragão promoter (égua bicho cheio de
$ifrão), e eram 3 de cada espécie.
 
E lá estava eu na demanda !
Minhas vozes e corações pulsavam no ventre. Era uma ciranda
rádiogerida.Eu transmito ! Eu movo ! Eu inspiro ! E meu parceiro ? No
apagão… aéreo. Arre, tô fora do apagão! No mesmo dia dessa roda, as
saúvas tinham comprado umas páginas nos jornais pra dizer que o apagão
vem da minha transmissão ! Diacho ! Quer bicho mais enganador que saúva
com jornal ? Uma peste, mundo confuso…
 
Eu ? Veredas ! Apagão
deixava pros $ifrão. Corria nos ventos, nas estradas, sintonias. Ah !
conquistei ! Conquista de frequência, num era mais consentida. E de
liberdade meu seio jorrava e tinha era gente se lambusando e mamando,
numa festa arretada de boa !Quer saber, acho que essa foi a causa-causo
que fez meu parceiro levar os dragão pra roda !
E bichão
presidente (arre!) cuspiu logo fogo: "se feche dessa liberdade, seu
parceiro é dono que manda" ! Bichão promoter (vixe) deu outra cusparada
medonha: "a sinhora está fora ! Está expulsa" ! Agora eu ali… vinda
de aruanda, com parceiro e os dragões em nome do $ifrão, a me atacar
!Abri logo o microfone: isso é golpe !!!
 
E
espanta-mor-d’eu-compreender: num era golpe das saúvas não ! Era golpe
do meu parceiro !! Tinha perdido a cabeça por causa do $ifrão ! Mas me
calar ? Isso ele não ia não ! Resolvi falar a língua dos dragão (era
voluntariamente vetado esse idioma em nossas rodas). Mas na hora que as
máscaras do parceiro caíram, pensei que essa fosse a solução. Afinal,
eles nunca iam nas rodas e não sabiam o radiolês.
 
Logo depois das
cusparada dos dragão, eu disse pra um dos dragão presidente:" vai tomar
no …" – que traduzindo pro radiolês: larga mão de bestagem, aqui
ninguém manda, é coletivo !Aí peguei o dragão promoter que vinha de lá
com as brasas-gosmeira:"seu filho da …" – que traduzindo pro
radiolês: entra quem quiser entrar, vem moça e minino e tudo que quiser
jogar !
 
Mas aí os dragão e o parceiro viraram um bichão maldoso !
E eu percebi que a língua dos dragão só fazia a roda virar coisa de
promoter-presidente. Daí voltei pro radiolês. Aí o parceiro disse que
nossa relação era uma caracu. Eu já ia achando aquilo de cerveja preta
bonit…, quando ele começou a chicotear $ifrão, cartilha, linha.Eu
bamba só sabia da ginga-curva e disse que na linha do parceiro eu não
seguia.
E a coletiva na ativa vibrando. O parceiro gritou:"já
tinham me avisado, quando saiste da costela que você ia me dar
trabalho, minha inimiga !" Daí que os dragões danaram a soltar as
labaredas: "tá expulsa, uma advertência pra danada, bora chamar a
segurança pra bicha …" Jacaré se queimou ? Nem eu !
 
O coletivo
virou um escudo e cada voz amansava dragão e dragão foi mansando e
ficando zonzo… e eu livrona ! Me dolori pra valer quando parceiro fez
uma das vozes moça chorar com suas bestagens ! Aí ele disse que não me
queria mais, e eu disse que por mim ele deveria era procurar outra
estação, são tantas pra ele ganhar uns $ifrão ! Aí ele fechou a roda,
supondo que eu voltasse de novo pra sala dele. Com medo das saúvas me
pegar…
Mas eu tava danada de livre e as vozes que eram escudo e
espada e coletivo disseram que essa causa-causo de linha e $ifrão era
coisa de outra estação. Pois eu cada vez mais danada de livre pensei
que parceiro machão é coisa de outra estação ! Sintonizei minha
freqüencia e deixei fluir a operação… vou por umas luas ficar
virtual.
Foi assim que subi no cavalo branco do santo-mano,
vencendo os dragão ! E o parceiro quando tomou apreço da sala viu que
eu era livre,livrona.Num era brinquedo dele não ! E as vozes, os
coletivos, as autogestão tão paridos, amamentados e transmitindo em
celebração !

BSB, 25 de abril de 2007

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