mandinga

March 13, 2009

Pierrot e Colombina

Filed under: PERSONAGENS — mandinga @ 10:11 pm

Vida litorânea de 10 dias.Margem de tempo entre oceano e terra.Vida interior é ar e fogo. Promessa de complemento. De externo o frevo rasgado e a maior festa do mundo. Pó – pular, regrava alma. De subconscientes muitas ondas. Apito. Mergulhos de saberes e desejos. Remoções. Divide por dois. Duas, três, dou-lhe. Magia. Descobertas de acender e levantar velas , e fazer chuva ensolarar praias. E se o último cochilo fosse a melhor lembrança de vôo e nuvens de pipocas enchessem a pança ,talvez Pierrot tivesse outra avenida. Passou.

E rio que corre sabe onde vão as águas. Sejam dos sete buracos da cabeça, sejam dos dois dos fundos. As águas vão rolar. E aqui começa o samba, enredo.

A fome de voltar fez Pierrot e Colombina darem ar, das graças, que batem. Repicam e ressonam. Compartilharam umidades e calores. Colombina compunha gotas nas teclas. Estudou para ser arteira, vislumbrava cores e movimentos. Pierrot era normal. Ativo. Balconista. Noturno. Sonhador. Sem tempo.Pançudo. Há anos marcaram salivas e carícias. De tanta marca, Colombina motivada pelo desconhecido resolvera certa vez imaginar versão para encerrar os gracejos entre ambos.

Uma graça cabeluda e Pierrot caiu no humor e molhado de riso levou horas intrigado. Causo ou,não causo. Fato é que Colombina confundia e brincava. Fantasiosa sempre. E Pierrot descontrolou nos ponteiros até desmascarar Colombina. Sim, era múltipla. Mas jamais assumira sua diversa demanda dos desejos. E descontava em caprichos. De beber e comer. Enchia. O causo era que dizia amar somente Colombinas. E Pierrot ? E sua máscara ? Cairam.

O luminoso coração do peito segurou -o. E os ponteiros trabalharam. Até que alguns carnavais depois , Colombina desfilava em frente ao balcão. Pierrot não lhe trazia mágoas, apenas risos. Colombina sempre sedutora. Pierrot enfim soteirou-se. E resolveu em fatídica alegoria permitir proximidade. Colombina cantava novos sambas. Anunciava outro carnaval. Permitia mais beleza e alegria. Dançou palavras de lealdade e companheirismo inimagináveis para sua evolução, harmonia e conjunto. Pierrot desconfiava, mas era de encher os olhos a promessa de um desfecho feliz. Uma quarta-feira de glória. Colombina resolvida a sambar no mesmo compasso pelo que houvesse de bom e belo.

Assim Pierrot entregou-lhe a folia. Deu-lhe coração e carnaval. Do bom e do melhor. E a agremiação para ele estava formada. E seu tempo foi todo para o desfile. Resolveu mesmo se jogar. Tanto que acabou carcaça e secreções. Na embriaguez da ingenuidade genuína com Colombina se lançaram ao povo, aos beijos e abraços. Diversão e alegria. Passado o êxtase, Colombina reforça que Pierrot é apenas, um apenas. O que queria mesmo eram outras duas companhias, que lhe reforçassem Colombina. E Pierrot paralisado e de peito doido e olhos marejados, pensou em toda agremiação e dedicação. Teriam sido em vão? Insaciável, Colombina dispersava o povo que Pierrot adorava cantar e encantar. Era só capricho e espelho. Só dor. Duro não dançava, molejo e requebros, não sentia.

Nova alegoria e Pierrot escolheu cantar suas dores, afinal, carnaval é recomeço. Tempo de se desfazer de dores. E imaginou que Colombina seria parceira nas horas de expurgar a violência cotidiana que Pierrot e todos de seu gênero sofrem, por …serem Pierrots. Colombina que há horas tinha o corpo nada recreativo devido a dores e secreções indignou-se. Mesmo tendo sido Pierrot o melhor possível com as dores de Colombina. Cuidado e afeto. Das dores de Pierrot ela desdenhava e abandonava a bateria. Silêncio e lágrimas.

Pierrot sabia que a fome de Colombina era ser carnavalesca. De um tanto que seria capaz de surrupiar a folia alheia. E se o bucho crescesse Colombina lhe furtaria todos os carnavais restantes. Sem direito a confetes ou serpentinas. Silêncio. Colombina apenas propôs nova fantasia. Cantou mais palavras e quase renovou o samba e o compasso. Mas, Pierrot já tinha perdido o Carnaval. E tinha que esvaziar o bucho. Mas, Colombina sabia exatamente os caprichos, motivações e enredos de seu trajeto. E resolveu jogar Pierrot fora do cordão.

Colombina jamais ficaria com bucho cheio e como não compreendia dessa coisa de bucho e de vida, tratou de caprichar em ser campeã. Sabia que o bucho só enchia devido a seu feitio. Mas como jamais carregaria esse estandarte, era comum ignorar que o havia feito. Vencedora almejava fama e muitos Pierrots a lhe cortejarem. Pierrot gostava mesmo era da brincadeira, sem vencedora ou perdedora. Gostava da folia. Por sorte e milagre e tudo de mais sagrado que há, Pierrot não tinha o que desentupir ! Descobriu sobre os raios do sol.

Colombina fez questão de se manter passiva, insossa, insípida, insalubre. Contrariada em seus caprichos  e insaciável em seu espelho. Entoa que Pierrot é uma ilusão. Insana.Uma farsa diante das suas idealizações.  Não cumpriu as expectativas. E nem terminaram a avenida. Desfilaram o desfecho de maledicências e  poeiras. Pierrot que tem valor e só quer alegria e brincadeira, levanta poeira e dá volta por cima. Agora reconhece a queda e anima, flui entre Pierrots.Vida Plena. E Colombina…  nem samba. Nem alas.

                           *                                   *                                *

Escondidos pelos íntimos inconscientes das águas hora doces, ora salgadas. Ora do céu, Ora da Terra. Estão tesouros . Caem lágrimas pela fome de voltar ao normal. Cair é transcender raridades.

                 *                            *                                *                          *

Ou… a breve lenda de como Colombinas e Pierrots viraram raridades no carnaval.

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