mandinga

April 1, 2013

PER.VERSA

Filed under: NA AVENIDA — mandinga @ 3:29 am

A noite não adormece nos olhos das mulheres
A noite não adormece
nos olhos das mulheres
a lua fêmea, semelhante nossa,
em vigília atenta vigia
a nossa memória.

A noite não adormece
nos olhos das mulheres
há mais olhos que sono
onde lágrimas suspensas
virgulam o lapso
de nossas molhadas lembranças.

A noite não adormece
nos olhos das mulheres
vaginas abertas
retêm e expulsam a vida
donde Ainás, Nzingas, Ngambeles
e outras meninas luas
afastam delas e de nós
os nossos cálices de lágrimas.

A noite não adormecerá
jamais nos olhos das fêmeas
pois do nosso sangue-mulher
de nosso líquido lembradiço
em cada gota que jorra
um fio invisível e tônico
pacientemente cose a rede
de nossa milenar resistência.

(Conceição Evaristo – Em memória de Beatriz Nascimento)

May 30, 2012

Marcha das vadias 26.05.2012

Filed under: NA AVENIDA — mandinga @ 6:50 am

October 1, 2011

Presente – Brasília 30.09.2011

Filed under: NA AVENIDA — mandinga @ 8:03 am

August 30, 2011

Diáspora da Jul

Filed under: NA AVENIDA — mandinga @ 5:13 am

Iê camaradinhas ! Como sabem, minha vida é sempre quase ! E.. quase não consigo o visto para Nigéria. Porque sou formada em Jornalismo, profissão que nunca exerci nos conformes, muito menos agora (vários erros de português, ou narrativos, como vcs podem conferir neste texto, por exemplo… dá-lhe mundo bugado né, Yaso ? :P)

Mas, foi no melhor jeitinho brasileiro, que veio o visto acolá. Akin, meu guia-amigo nigeriano, conhecia alguém na embaixada que acabou conversando com o pessoal do “não queremos jornalistas na Nigéria”. E mandou a real da viagem: participar do Festival de Oxum – no Rio Osun, em Osogbo. Visto nela !

Esta viagem começou a ser planejada, involuntariamente, há + ou – um ano. Acordava de sonhos em que recebia instruções de quais livros ler, em quais páginas… depois vieram vídeos, que simplesmente, carregavam sozinhos em meu computador. Assim descobri o Rio, a festa (e sim, vcs sabem o valor das festas pra mim), a floresta, o Templo. E veio o encontro mágico com Akin e a missão: levar Osun aos 4 cantos do Universo. Sua vibração de amor, cuidado, prosperidade, fertilidade, magia, beleza e bondade. Sua iluminação de ventre e coração, meu caminho: Yalodê !

A grande força feminina na raiz, África. E missão dada: é missão cumprida! E aqui estou, no estado de Osun, 2 da matina, recém banhada no Rio pra tentar contar um pouco da viagem. Vou fazer um texto mais descritivo, porque sei que têm amigas e parentes preocupados no Brasil e amanhã, em Lagos devo acessar a net. Quando voltar posso contar mais detalhes dessa terra fantástica e seus tesouros.

Primeiro dia:

Uma colega de SP escreveu que em Brasília há algo de bom que sempre a faz voltar. Pensei no coração do Brasil, no berço das águas doces que correm. Mudando, freqüentemente, mudando e se movendo, sem parar em lugar algum, fluindo…Surge e afunda, sem constância, até abastecer aos oceanos. Pra brincarmos em suas ondas, pescar seus peixes, navegar nos mares e mergulhar em seus mistérios, e …quantos inconscientes não revelamos nas profundezas do mar ?

Penso: que nosso caminho, nos sirva! Oceano Atlântico – e as vidas que nunca acessamos: te cruzo pela primeira vez ! Era justamente, pra acessar minhas profundezas que resolvi navegar. Ainda que tivesse o alto custo material e mais ainda o afetivo. Especialmente, deixar o córrego, o trampo e minha cria João Pedro (que desde sempre se empolgou com minha vinda e fez planos junto, reforçando o companheiro sagaz que é) ah ! o meu guri ! sempre fortalecendo e motivando o retorno, o pouso, o regresso.

E nem precisa contar pra vcs: mais uma vez, aquela correria até o aeroporto. Agradeço ao Carlos pela carona e a todas as mensagens de carinho e coragem de minhas manas e manos ! Valeu ! Já tava no check-in quando surge o Akin. Ri muito com Akin ! Conhecemos pouco um do outro, mas valeu demais cada brincadeira, sabedoria, leveza. As amigas Lana e Mel embarcam na mesma nau, até a África do Sul, onde vão pesquisar danças circulares sagradas (femininas). Nossa fiquei muito emocionada com o encontro. E aguardo essa colheita, em dança. Para cirandar com as nossas mulheres da cultura. Aho ! Lana e Mel, lin-deusas…

Com tempo de sobra na paulicéia aproveitei pra refazermos nossos planos de viagem na yorubalândia… Comento da minha percepção do mar. E o Akin garante: banharemos ! Comento da minha curiosidade sobre Iroko e o Baobá. Akin rir compulsivamente… Penso “meu Deus, fiz alguma pergunta do tipo, ‘vcs no Brasil moram com os macacos'”. Mas, na verdade depois de se conter Akin, lindamente, responde: “se na África tem Iroko ? Vários, por todos os lados…” MEU DEUS ! Zara Tempo… fiquei bem feliz… O aeroporto estava lotado de gente indo pra todos os lugares do mundo ! Pensei que época linda estamos vivas em pleno tempo em que tudo ficou perto, no fato de escrevermos sem nos preocupar com os erros, se perderemos a lauda. Ficou fácil nos encontrarmos, consertar os erros. E parece que bem mais difícil nos reconhecermos e reconhecer nossos erros, transmutarmos. Conheci 2 amigos do Akin: Femi e Jai. Falamos do Brasil e da Nigéria, os 3 são Nigerianos. Eles falam das possibilidades na paulicéia. São comerciantes. Sampa ganha mais um motivo pra mim: terra onde se planta. Preciso falar das roupas do AKin – toda branca, calça e camisa -paletó, ambas bordadas de prata. Lindo demais, parece um sol. E obviamente transformava o embarque… o olhar de encanto das pessoas… eu rio 🙂

O vôo pra Africa do Sul foi um luxo só…. bebemos muito vinho, rimos mais ainda, parece que quanto mais rimos,mais aumenta nosso estoque de gargalhadas. Femi embarcou conosco, e lógico que foi a deixa pra falarmos do Fela Kuti (o filho do Fela se chama Femi). Ainda, não tinha levado nenhuma prosa sobre política com Akin, pra evitar desgastes ou divergências… (deixamos nas entrelinhas o episódio do visto negado pra jornalista) Mas, Akin me surpreende. Diz que ama Fela. Que na Nigéria ele é realmente um Deus, que apenas os políticos não gostam do Fela. Ufa, que alívio ! Mais um vinho que esta prosa merece um brinde !

Assim, o sol veio raiando no céu Africano ! Eu lá nas nuvens ! Presente ! Chorei e mais ainda quando pisei no chão, fiquei gingando capoeira, uns 10 minutos ! Miriam Makeba no sistema de som do aeroporto ! Íamos passar muitas horas – umas 8 – no aeroporto de Johanesburgo. Que tem lojas fantásticas de roupas, artesanatos.. gosto de tudo, mas naquele esquema:muito caro ! Fico me divertindo… E encontro um tambor lindo, $8 ,deu pra investir. E ficamos ali fazendo um som…Fomos pra uma loja de bebidas e uau! Experimentamos muitos Scotchs e uma Sminorff de Café – deliciosa. Abrimos a mão e levamos uma garrafa pra brindar, em Lagos. Akin e Femi só falam Yorubá, vou treinando.

Falamos de Elefantes e Amarula, do Rio Nilo.Era tão mágico aquela oralidade yorubando… que começamos a criar uma outra língua, exclusiva do nosso trio e, …mais uma vez, rimos muito ! Impressionante a generosidade dos meus companheiros. E viver entre os nossos é uma benção – de patinho feio a cisne . Adoro esta metáfora, pra explicar , que quando vc está entre os seus, vc só precisa ser vc, e tudo faz sentido, lindamente ! Hora de embarcar… e começa o que chamo de desafio do parto – arte da ressurreição.

Sim, nascemos muitas vezes, em uma única vida . Nesse embarque, de Johanesburg pra Lagos, entrei em meu próprio trabalho de parto. Entre as centenas de pessoas, somente eu era branca. Sim, a Nigéria é o país mais negro do planeta. Um em cada quatro africanos é nigeriano. O país tem muitas riquezas naturais, é o sexto produtor de petróleo do mundo. Fala mais de 200 idiomas, o inglês e o Iorubá são oficiais. Sendo que o Iorubá de Lagos é diferente do falado na cidade de Oyó, por exemplo. O tempo parou ali, percebi que não seria mais a mesma. Agradeci muito a oportunidade. Saravá !

Enfim, pousamos em Lagos – reparem 20:45 minutos (desconto pra 4h de fuso horário) do dia 25.08.2011 – Nigéria ! Calor, muitos militares e somente eu de mulher na fila do desembarque gringo. Akin pega a fila dos Nigerianos, sempre de olho em mim. Mas, nos perdemos. Vou passando pelas revistas, etc. Param o Akin. Sim, tanto em Johanesburgo, como em Lagos eles usam um método de sorteio pra revistar documentos de quem desembarca. E o Akin, com a roupa encantada, imaginem que chamava pouca atenção rs…

De repente estamos numa sala mais reservada, eu , Akin , uma freira e dois sujeitos algemados. Eles falam em Yoruba. O Akin me explica o que está acontecendo: todas as pessoas que vieram do Brasil devem ter as malas revistadas. Tá rolando um esquemão Brasil – Nigéria e lá vamos nós, tod@s suspeit@s, praquela típica abordagem “dos homi”. Mas, dessa vez, eles são milicos e não falam minha língua. O Akin vai buscar a mala. Fico eu, a freira, os 2 algemados, os milicos – 1 deles no facebook (ai meu vício ! Cocei pra não pedir pro cara pra escrever pra vcs) e uma TV Gigante transmitindo as notícias da AL Jazeera.

Vejo que tô mesmo no Oriente, a freira fica rezando, foi me dando uma angústia… era o mais longe que já tinha ido da minha terra e parecia que o mais perto do meu coração… olhos foram marejando e abri o berreiro – de tanta coisa: felicidade, medo, raiva, cansaço, tristeza (quem me conhece, sabe, que meu coração anda em coma profundo, há um ano). Lembrei da smirnoff de café e os milicos disseram que não podia beber. Disparei a falar inglês, e num quis nem saber, dei uns goles na vodka e rapidinho trataram de trazer o Akin: Your husband, Mrs ! (hahaha)

Eu mandei a real: no maior estilo “nem marido, nem patrão”. Mas, a freira logo clamou a Deus e sim, estávamos em missão sagrada. Sosseguei o facho. E nessa hora chegou Femi e mais meia dúzia “de vindos” do Brasil. Entre eles um senhor impecavelmente elegante. (Sim, Marina Mara, todas e todos muitíssimo elegantes como sua sensibilidade garantiu 🙂 Já havíamos desembarcado há horas e nada das nossas malas ! Claro que passou o filme: presa na Nigéria, sem roupa e desodorante. Oh não ! Mas, a freira e eu rezamos bem. E chegaram as malas, ai foi a confusão… pra revistar a mala da freira, as muambas dos companheiros, e minha nossa os guardas piravam nos biscoitos, feijão, café, que a galera trouxe do Brasil. A cara deles pros pacotes, era coisa de filme ! Enfim, descobri que na Nigéria comida tem muito valor! E a maioria das pessoas pertence a minha classe: são comerciantes, se vira nos 30!

Finalmente nos liberam. Ai o Akin ficou falando de um scaner, eu achei que ele tava me zoando. Que nada ! Lá fomos nós escoltados pelos milicos pra tal máquina do Scanner, a freira foi liberada. Na sala, eu , Akin, Femi, Abein (uma nigeriana lindíssima – a la Naomi) fomos scanead@s. Não acharam nada, mas pediram pra Abein ficar repetindo o “exame” e saquei que o guardinha tirava uma foto dela no celular. Achei escroto. Ele disse que eu não podia ver. Fiquei puta, comentei com a Abein (que mora em Sampa há 3 anos , casada com brasileiro e tem dois filhos). Falei que achei machista. Ela desconhece a palavra machismo. Ficou puta com a “revista – virtualmente – íntima”. Mas trocou em miúdos, de mulher-pra-mulher, que podia ficar tranqüila porque os caras aqui eram legais.

Finalmente, livres mesmo ! Sai do aeroporto escoltada pelos irmãos e amigos do Akin. Muita alegria. E eles são legais mesmo. Fomos para um “hotel”. Minha primeira refeição: arroz, peixe, banana frita, tudo muito gostoso e apimentado (dizem que pimenta mata verme, q deve ter de monte dada as condições de saneamento aqui em Lagos) !

Enquanto comemos a TV está ligada e …xazam ! Filmes nigerianos: sim, medalha de bronze do mundo cinematográfico ! A terceira maior indústria de cinema do mundo.Os filmes são engraçadíssimos, a estética é tipo novela mexicana. Mas, com elementos da cultura da selva e os costumes do interior da Nigéria. Tento tocar um som, falar de música, mas a galera fica vidrada na TV ! Eta le le ! Fui dormi …


Segundo dia:

Partimos pra Osun – Osogbo. Hoje é o grande dia, o dia do Festival de Osun. O café da manhã tem o pingado fantástico daqui – o leite é tipo creme. Vou levar pro Brasil. Delícia ! Dormi profundamente, sinto que fui muito ousada desta vez. Acho que meus guias estão buscando minha atual localização no planeta hehehe Nunca dormi tanto e com tamanha profundidade. E já queria dormir mais um cadinho no carro, mas…o trânsito é uma loucura, milagre mesmo até agora foi não ter visto nenhum acidente. Impressionante, todo mundo buzina, o tempo todo, sem respeitar nenhuma regra, o tempo todo ! Quase entro em pânico, mas elevo os pensamentos e na mesma hora um outdoor me presenteia : “Like an Eagle” – a águia é meu animal de poder no xamanismo. Alumiou…

Três horas de viagem, chegamos ao novo hotel. Só que simplesmente ninguém passava pra canto algum, devido a multidão de pessoas..Pegamos uma moto e … pimba ! Festival de Osun ! O rei estava saindo da festa, quando chegamos. Quase parei a comitiva pra dizer: “querido rei, o senhor já pensou em construir ciclovias para seu povo maravilhoso “? Mas, na verdade eu quem sou parada o tempo todo. Milhares de pessoas no Festival e… novamente apenas eu era branca. Muitas pessoas querem tirar fotos, pedir dinheiro. Sim 90% da população vive abaixo da linha da pobreza.

O Akin se aborrece com o fato deu tirar foto com as pessoas, abraça-las, beija-las… Fico impressionada, penso tanta coisa sobre ser a exceção, ainda nem digeri…Mas, primeiro imagino: e se fosse o inverso, uma negra , entre milhares de brancos, provavelmente seria sondada, suspeita, inferiorizada, etc… Eu estava sendo reverenciada como uma rainha.Só que, de um jeito ou de outro, ser a exceção é dureza. As mulheres me passavam suas crianças a todo momento, e tem uma multidão de pessoas no festival, confesso que fiquei com medo de alguma esquecer a cria comigo…. Penso em voltar aqui pra adotar uma meia dúzia de crianças : )

E o que me faz ficar mais feliz é que Osun é louvada. Pessoas de toda Nigéria – cantam : Ora ie ie ,Osun ! Uma multidão cantando e dançando. Muito perfume, muita comida, muito ouro….Ela não é Oxum só na umbanda e no candomblé, ela é Osun na Nigéria tb ! Louvada em toda sua majestade, nós filhas e filhos em gratidão ! Que festa ! que emoção… abro o berreiro de novo ! Encontramos o Baba! Pai de Santo daqui, primo do Akin 🙂 Muita felicidade, ele há dias participa dos feitios, das preparações pro Festival.. Muito batuque. Cantos, oferendas, vestes…

Têm totens por todo parque… vou escrever sobre isso depois, com calma. Damos a sorte de ver a Oxum do santuário saindo da “camarinha”, bem na nossa frente! Foi muito, muito emocionante ! Bato cabeça em um assentamento e vou pra Aruanda. Vejo muito ouro e uma pirâmide dourada. Depois entro no rio. Coisa que eles acham perigoso, “porque oxum leva”. Quando saí, uma multidão me esperava. Começou a chover. Fui pro templo esperar a chuva passar, as pessoas vão saindo, o lugar vai ficando calmo e tranqüilo. Podemos sentir o doce… e aquela paz das casas de Oxum. A chuva lavando a floresta. Sou gratidão ! Sou plenitude !

Sono, sonhos,bençãos… Minha oração hoje foi de muita gratidão: compreendi um pouco mais a língua dos anjos !

Pra quem for de facebook, consegui subir umas fotos. Taqui ! 🙂

August 22, 2011

Hoje acordei com Marina, presente !

Filed under: NA AVENIDA — mandinga @ 2:14 pm

Terreirodo Urubu

Bamba feito bambu
Que não se quebra
Na ventania
É o terreiro do Urubu
De onde sou mizifia
Lá batemos tambor
Para ver Pagul descer
Encantada com
A gira do amor
E vestida de
Entardecer.

Marina Mara

http://www.marinamara.com.br

=> Muito obrigada ! Saravá !

April 17, 2011

Yalodê !!!

Filed under: NA AVENIDA — mandinga @ 3:51 am

Quero ver Ilê !

Ora ie ie o ! Bembe pra Ochun

Filed under: NA AVENIDA — mandinga @ 2:54 am

Salve Oxum, a matriz africana, santerias….

http://http://www.youtube.com/watch?v=pxyD1l9-CFI

February 17, 2011

Ponto pras minas, ou (r)ai cai dos desejos

Filed under: General,NA AVENIDA — mandinga @ 5:02 am

– Vc sabe que quero vc, né MINA ?

– Mas vc sabe que to no trampo e aqui é campo MINAdo

– Então vamos doMINAr

– hehe isso vamos doMINAr …nosso próprio mundo

– Vamos doMINAr o mundo ! Mas tem uma coisa: eu quero ser a Pink e vc a cérebro !

=D

(cantadas no boteco)

January 20, 2011

Colônia

Filed under: General,NA AVENIDA — mandinga @ 6:02 am

Fim dos anos 10. Foi passar dias e noites na metrópole. E mesmo 2 luas depois tava no colo de Morfeu pra aliviar a temporada na Paulicéia. Ali todo volume de vivências, num tempo de tanta angústia. Foi por lá pra viver um cado de coisas: trabalho, militância, festas e reencontros. Trazia o desejo da expansão de seus territórios: dos bailes, da terra do cuidado, do local da prosa, das ilhas de carinhos e carícias, da vila da calma, da rua das trocas, dos bairros de sabores…. enfim, do reino das águas profundas. Gosta de mergulhar.

E assim foi o desbravar … o bloco com o povo de rua, das crianças e caboclos desceu e subiu pelas avenidas. Expandiu de flores, cores e amores na cidadona cinzinha… Alegria, alegria. Até que.. de laje em laje, de praça em praça, de esquina em esquina foi se acabando…Quarta-feira foi mesmo de cinzas. A força da metrópole era tão bruta… e trazia ruídos de ensurdecer, inclusive a alma. Já tinha consigo o tempo da sintonia perfeita entre valores e desejos.

Antes de embarcar pra metrópole sabia da sociedade do espetáculo. Sabia quem ditava as regras e quem consumia. Quem era soldado e quem era general. Quem faz o lobby e quem bate palma. Então, de certa forma era como se tudo já tivesse escrito. E aquele baile de máscaras era filme visto.

Entre metrópole e colônia o que se troca é valor. E o que mais vale nesse tempo digital é a subjetividade. Essa é a especiaria dos anos 10. Então, levava fé nas engrenagens que faziam a roda girar: colaboração, gratidão, confiança. Mas, ali no olho no olho, no apertar das mãos, no predispor dos sentidos lançaram a corda no bloco. Sabe essas agências reguladoras que nos tornam insustentáveis…?

Muitas desfeitas… nas trilhas… Lembrou de uma placa: na trilha da virilha ! Por lá, onde escoaram ouros e diamantes, agora queriam correr impurezas. Sem nem fazer consultas púbicas. Ali pagava-se muito caro pra negociar afetos. Muquiranice pura, necas de valor pra essência… As regras do jogo vindo a tona. Sentia que o doce e o belo despertavam uma fome predadora no mundo colonizador.

E assim o tesouro da colônia ia sendo devastado. Mesmo tornando a metrópole viva, alimentando suas forças… Troca injusta. Colônia e metrópole tinham fomes distintas… o que move é valor. E o jogo não era tão aparente, necessitava de faro aguçado, de mergulhos vivos. Contradições ocultas suaves. O que era quase sinônimo, descobriu antônimo e assustou – bandas largas essa dos sinônimos…

Descobriu um sinônimo pra resistência: vem de se tornar forte, robusto… na sua concepção resistência sempre esteve associada a embate, conflitos, combates contra algo que infringia seus valores mais verdadeiros e necessários. Como era bom ressignificar, importante essa visão fortalecedora da resistência. Novos significados pra praticas antigas…

E colônia tem coragem, inclusive o suficiente pra negociar amor e desejos até que façam sentidos. E ali os muros e placas comunicavam melhor que as pessoas. Num te -curto- circuito de monólogos . E como gosta de ir fundo, voltou a pensar. O comum é pagar caro por não conseguir negociar os afetos. Fazer, ou não, sentido. Essa balança comercial de uma cultura muito desfavorável… E foi caminhando pra justificar suas motivações, de como elegia presidente do coração sem sequer eleição. Ou, o quanto era signatária do pacto das imposições metropolitanas, que dana, que insana… e que se pauta no desprezo. E que se essas eram as engrenagens da cultura digital, optava por preservar os próprios dedos, que a levavam a lugares mágicos.

A colonização do desprezo traz batalhas com resultado voraz: a derrota pessoal. Não tem fusão, nem troca. É a única resposta às apostas. A única solução de tantas possíveis. No jogo que a própria metrópole manipula. Porque assim se domestica melhor a alma. Mas, esta colônia tem um tipo diferente de alma na bagagem. O tipo que ganha força no isolamento. Como diz a sábia autora do oráculo que trazia consigo: “o isolamento elimina a fraqueza com os golpes, erradica lamentações, proporciona insights penetrantes, aguça a intuição, assegura o poder incisivo de observação e de visão de perspectiva jamais alcançado pelas pessoas aceitas.” Destas revelações que as relações impostas de controle ficaram explicitas.

Humanas antes de exatas, selvagens antes de civilizadas, assim eram as dela. Depois de confirmada as atitudes predadoras, voltou a encontrar com as suas. Cirandas. E já cintilava o combate à necessidade de subjulgar, à imposição dos egos. Resistência com o canto das moças. Das moças do cerrado. Das indas e vindas de tantas insurgentes e heroínas da vida, que em sambas e filmes traziam consigo o grande milagre. A missa de domingo – ou dançar com Joana aos 15 e Carmem aos 30. Amanhecer na feira de rua. Ganhar frutas, rosas e o detalhe mágico da sétima vermelha. E vai no livro: “quando há canção os deuses e deusas estão sendo conjurados a instilar sua sabedoria e seu poder – forças estão atuando no plano espiritual, estão se ocupando de fazer almas…” É cangerê, canjira, caruru, curimbó, catimbó…

Chegada hora de preparar pra lançar o barravento, volta pra casa. Mas, forte. Robusta, resistente. Mazaropinha da vida… A frieza é o beijo da morte para criatividade. E o oráculo narrava ” tu podes saber muitas coisas, é possível saber das coisas, mas não se trata do mesmo que sentido, que ter sentido”.

Resistiu e sobreviveu. E na ginga ia zarpar da estação desprezo. Balançava pra resistir ao colonialismo. E usufruir do bom, do mel e do melhor, sem desprezo. E mais oráculo pra justificar a conquista da batalha. ” É pior ficar ali onde não nos sentimos bem , do que vaguear perdida por um período em busca da afinidade psíquica e profunda que precisamos – nunca é errado ir atras do que precisamos…” – precisava d’alma. E isso não se negocia. Alma é eternidade. Banho de força, deleite, lavou as contradições. Ribeirão de felicidade, deslizes de euforia e muitos risos entre as que resistem: brincantes ! E tome: ” na índia – um mortal toca o tambor para que as fadas dancem diante da deusa Indra – em troca desse serviço ele recebe uma fada em casamento – algum tipo de premiação é concedida ao homem que quiser entrar num relacionamento de cooperação com o reino da psique feminina , reino que lhe é misterioso…” Notícias de reinos distantes…

Era tempo de voltar ao próprio reino. De garantir as defesas, contra ataques.E deixando pra trás os desvios cambiais, a viagem valeu pra confirmar a sutileza do colonialismo moderno. Novos pleitos, peitos e ventre compunham o comitê gestor de selvagerias. De jeito maneira seria refém ou escrava do baile de máscaras. No porto, um enorme outdoor berra: moda evangélica. Saiu voada daquela perdição. Nessa altura o colonial já não rimava com os traquejos e desejos libertinos. O estado de transe… a rebelião refogando. O anular de todos os pactos levianos, usurpadores e injustos aos quais de bobice era signatária. No caminho do embarque lembra de quem ficou pra trás.

Como na ida ao Parque da Independência pra ver um show de boa cantora norte-americana. O parque, o tempo de celebrar a independência… muita gente se pisoteando, em filas intermináveis… na saída ali espremida na grade encontrou Alzira. Abraça Alzira, acolhe da multidão, atravessam o tumulto. Alzira considera um milagre uma desconhecida agir assim. Pede ajuda pra voltar pra casa. Cumplicidade de alma. Alzira repete e insiste: bonita, bonita, muito bonita.

Independência ou sorte, ou morte, ou estrela do norte. Enfim, recenseou abalada … nas intera da vida, inteira… !

Pousou. Persistente. Trazia consigo verdades. E colônia virou água de cheiro, planta de benzer, erva que defuma. Pra inspiração, pra respiração… tem mais: ” tanto pneuma como psique – são consideradas palavras para alma – se a mulher não consegue encontrar a cultura que a estimule, geralmente ela resolve criar ela mesma, essa cultura. Isso é bom, pois, se ela a criar, outras que vinham procurando há muito tempo chegarão misteriosamente um dia, proclamando com entusiasmo o fato de estarem procurando por ela o tempo todo”.

É preferível ser tola na percepção dos homens, a ser maldita perante as deusas… lido por ai…

… desaguando devaneios sobre a colonização das culturas coronárias. Fim da primavera 2010 – em profundo rebuliço com Clarissa Pinkolas Estés – que me fez correr com as lobas ..

January 5, 2011

PAC

Filed under: General,NA AVENIDA — mandinga @ 4:28 pm

Aos pactos que vamos tecendo… bem ou mal, crio aqui no cerrado. “Tomar posse” em Brasília, “tombar a cidade” de Brasília são expressões que costumamos ouvir. Fim de semana da posse da primeira mulher a chegar ao cume do poder executivo nacional. Isso demanda um oceano de subjetividade…. des/re – constrói um tanto nossos imaginários. Nao fui a praça dos 3 poderes, preferi a torre de televisão, matar a fome. A feira tava tomada de policiais. Minha fome física pedia que a primeira refeição da década fosse o bolo de fogo poderoso de oya. Um acarajé recheado com caruru, vatapá, camarão… enxarquei ! E com a chuva fininha me dei de sobremesa uma tigela de acai da barraca do pará (ui!) – tava ali fartando das comidas de tantas culturas, brasileiras e mundiais, rolezin bacana…

Sorrateirinha me dispus em frente a tv que transmitia a posse da Dilma, a despedidade de Lula. O dia histórico. Eu molhando sob a lona e cercada de olhos que fitavam o espetáculo da posse. Daqui a pouco começam as falas: “emocionante, neh ?” , “nossa ela é tão diferente pessoalmente, cabamos de ver ela lá no rolisroice”, “a televisão muda a gente…”, “nossa uma mulher que já foi estuprada chegou ao poder”… quantos elementos iam temperando o caldo vigoroso do açaí. Compartilhando o dia histórico com brasileiros e brasileiras. E como sempre faço em momentos de pensamentos demandantes… me transportei. comecei a pensar nas coisas que acompanhei com os movimentos sociais nos anos recentes… as várias manifestações do povo na esplanada – merece destaque a prisão de vários camponeses e crianças em 06.06.06 – (uma data cabalística, uma ação cabalística, um resultado cintilante da esquerda nacional) e dei um pulo aos espelhos, comecei a lembrar dos espelhos d`água, que recentemente os representantes do povo mandaram construir mais espelhos para evitar que o povo chegasse até o Congresso (comumente chamado de a casa do povo), entre muitas festas da democracia nacional.

morar em Brasília (como em qualquer grande centro urbano) é conviver com contradições, mas 30 anos depois ainda não consigo consenti-las… Comecei uma retrospectiva minha com a cidade, tarefa infinita, mas dessa vez me entreguei e tinha a sensação sensorial de cada lembrança do cheiro, do tato, do som, das cores…. Neste 2010 a cidade completou 50 anos, eu 30, meu filho 10. Lembrei de algumas coisas da infância, entre os eixos, entrequadra, na asa do rumo norte. Sempre amei brincar de comidinha, sina… E meu ingrediente favorito era a sementinha vermelha de pau-brasil…, a árvore que se esparramava ao alcance dos pilotis. E juntar os graozinhos, aquece-los nas maos, distribuir nas panelinhas (as imaginarias inclusive) e por que nao engolir aquelas bolinhas vermelhas, muitas vezes dadas como veneninhos, pequenos feitios …

Na mesma quadra, nessa mesma época tinha um amiguinho que adorava: o juruninha. O filho do juruna que nunca conseguiu conviver com as crianças da tribo que tinha vindo viver com o pai deputado nos meados dos anos 80. Lembro que ele tinha um jeito de brincar que de alguma forma despertava o pânico nas crianças. Ele conseguia lançar um vareto numa velocidade e com tal força que quebrava a pernas das outras crianças. Então, quando a criançada tava ali brincando nos piques e aparecia juruninha com seu graveto pra cumprimentar a meninada, todo mundo corria. era assim que ele costuma dizer oi aos colegas da nova tribo, tamanha sua fúria com o novo ambiente… mas comigo tínhamos um pacto de olhares, e era belo e bom e sempre brinquei com ele silenciosamente. De mato, de terra, de sementes. As vermelhas, as de pau, Brasil. Trago um encanto especial por essa fluidez selvagem que me trazia o juruninha… anos depois me chegou um texto fantástico dos vilas – boas sobre o primeiro contato com os juruna e a surpreendente maneira como se comunicavam por assobios… passei a assobiar, e imaginar diálogos com meu amigo que ja nem sei por onde se banha, mundo afora…

Pulo pros fins de semana dos anos 80, que bem sabemos muitas famílias iam até a praça dos 3 poderes passear… não era programa de turista, era programa nativo. E o Congresso era nosso espaço, nosso parque, nossa praça. Podíamos correr livremente por ali. E as árvores mais prazerosas de brincar eram as tigelas … delicia escalar a tigela de boca pra baixo. Um dia resolvi subir, devagarinha, subir e subir, ate que com uns 6 anos de idade subi ate o ponto máximo da tigela… e meus pais ficaram lá em baixao daquela altura desesperados pra que eu descesse. Eu sentia um profundo prazer de estar ali em cima ! mas veio um medo enorme dos meus pai em pânico .. o que me tirou aquele bálsamo da conquista… e comecei a descer, do único modo possível: escorregando. alivio.vento.

Volto pra barraca, pra Dilma na TV. E não largo da frase do compatriota ao lado “uma mulher que já foi estuprada chegou a poder”. Lembrei de um livro da minha vida, do Luiz Maklouf Carvalho, ” as mulheres que foram a luta armada”, lembro da dilma da tv digital que não ouviu os movimentos sociais na época sobre o padrão a ser adotado pelo Brasil, lembro da defesa das hidrelétricas em detrimento da preservação dos ecossistemas… e de uma vez, proseando com meu grande amigo e companheiro na península dos ministros ela aparecer do nada e nos cumprimentar as 6 matina, confesso que estávamos num estado bohemio suprapartidário hehehe… e rimos muito da situação. Dessa vez a TV nao reproduzia a coroação da miss… a faixa era de presidente.Inegável, a sensação de data histórica, ainda que o patriarcado dite as regras do jogo e o espetáculo se reproduza aos olhos velozmente.

No dia anterior dava viva as ANTIHEROINAS que me rodeiam. Tava numa roda de prosa deliciosa com as amigas, cafezando pra embarcar uma delas pra salvador, a cidade semente. O mais engraçado é a sabedoria feminina expandindo desses encontros… uma logo comenta: “Brasília é um coito interrompido” ! Dai só complementos: “um baile de máscaras”, ” os caras não dão conta das nossas fomes”, “com os anos ficamos muito seletivas com quem tomamos café da manhã”, depois horas de prosa com roupa na casa de uma amiga, jornalista, militante, rimos daquele jeito selvagem, mas rimos muito mesmo da nossa sexualidade cotidiana. E no dia seguinte casa da minha amiga mais sol na atualidade. A que fareja, a que corre com as lobas (e ela nem sabe que tem esse poder) … mas, ali no primeiro almoço de domingo da nova década ela veio me trazer uma aula de como ser a mãe-hacker mais linda do planeta . Nova década, adoro o instinto maternal aguçado. Amo as que se dedicam com amor a criar e hackear. Ela tem cuidado, carinho e liberdade nas horas dali. bonito de presenciar. Rizoma.

Dilma no palácio e nós aqui na rua !

ps.: … e toda vez que passo ali na 302 norte onde estudei no jardim de infância juro que ainda vejo o Ulisses Guimarães fazendo cooper pelas calçadas temo e acho graça entre a latunia da criançada e o cheiro da escolinha de manhãzinha… !

2 – Revendo 2010: me apaixonei de verdade. Platonicamente. Inclusive pela tequila. Sai no galinho e foi o melhor carnaval. Depois de 7 anos consegui a Pensão Alimentícia do meu filho. Participei da edição histórica do Jornal Radcal.Sustentei a casa de cultura que trabalho – quase falimos por falcatrua do GDF. Consegui um sócio certeiro. Organizei vários festivais de skate e futebol da molecada amiga do meu filho. Amei mais ainda ser mãe. Fundei (mais um monte de mina massa) a rede mulheres da cultura. Vi minha militância pelos direitos reprodutivos ir pelo ralo durante as eleições. Ganhei a dani, alice, lara, camila, a pati, lana, vânia e yaso como irmãs. Sobrevivi e consegui salvar uma tia de um hospital psiquiátrico.Acompanhei minha vó desfalecendo lentamente. Me tornei terapeuta reikiana. Voltei a estudar economia e exatas e to amando. Vi uma tempestade de areia, senti um terremoto. Aprendi a dizer não. Escolhi a solidão, enfrentei e deleitei. Voltei a cantar com a Ellen Oléria. Retomei a dança do ventre com a Padma. Fui muito amada pelas minhas amizades. Vi mais uma Copa. Ativei muitos sonhos próprios e alheios e gosto muito disso. Participei de várias cerimônia lindas, no terreiro matriarcal que construo-vivo. Entrei pra associação de mulheres empreendedoras. Construi uma nova loja linda pra alimentar e divertir mais centenas de pessoas. Aumentei minha equipe de colaboradores e somos um time feliz. Comecei o pompoar, a usar o copomenstrual, a fumar artemísia. Chegou a sacerdotisa, me empoderei dos meus dons espirituais, li muitos livros fantásticos. Revi meus valores, aumentei o autoamor, direcionei anseios. Ganhei um toca-vinil e muitos presentes impressionantes. Distribui conforto, colo, dicas, saberes, amor, idéias, presentes. Reativei e abri blogs, perdoei e botei pra descansar vários desafetos e predadores. Acendi fogueiras, banhei de mar, de chuva, de cachoeira, de lua.Cozinhei, costurei, fiz doces. Comecei um projeto de VJ e vídeos livres – o ve se te enxerga, alimentei o Teatro Oficina e a Elza Soares, descobri que amo o BNegão e o Buguinha Dub, Redescobri significados – especialmente o de resistência (fortalecer, tornar robusto, endurecer).E o melhor: pari a selvagem !

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