mandinga

October 21, 2010

Acordes

Filed under: General,NA AVENIDA — mandinga @ 7:39 am

Mais um encontro para estudos com a mestra Ellen Oléria. Me impressiona a didática, me impressiona o canto espontâneo solto na fala, me impressiona o cuidado comigo e consigo, me impressiona a leitura de mundo. Ela conta um caso lindo sobre o pai, daquele jeito que só quem traz no peito o bom da vida sabe contar…

Hoje, o preto velho me impressionou. Me perguntou como está meu coração . Eu respondi que de tanto apanhar não consegue nem ficar em pé. Daí ele disse, quem tem muito amor pra dar sempre se levanta. Tens muito pra dar, apenas isso. Muito amor pra servir. Quem cai é quem não tem nada no peito, a ponto de nem conseguir receber, perceber… nem se conectar com o essencial.

Mas, voltando pra Ellen essa preta velha nova. Diva no meu tempo. Desde que a terra tremeu em nosso primeiro encontro para estudos musicais, seguimos marcando a sintonia em surpresas incríveis.

Com ela saio do espaço. A Ellen me leva a muitos lugares. Acessamos poucas fronteiras, tem coração, reflexão, qualidade e tesão em música. Ela “É” daquilo… Ali dedilhando as horas vou com ela das emoções abertas aos valores fechados. Temos regras: a de nos expressar pelo toque,e de nos alimentarmos em cantos. Com ela eu brinco o encantado ! (Aliás vo fazer um outro parêntese sobre essa expressão – minha amiga Rai costuma me perguntar se vou brincar o encantado, quando quer se referir as minhas idas ao terreiro. Muito bom ver a espiritualidade ser significada como uma brincadeira… encantada, ponto ao Norte). E se no primeiro encontro Ellen me fala até dos caruanas (entidades encantadas das águas do marajó – PA) nesse ela me traduz que musicalidade na vida passa por instrumento de ritmo, de melodia e de harmonia.

Nossa bastou isso preu decolar em metáforas! Do quanto era da harmonia, enquanto meu bem quando se tocava era pra marcar ritmo. E bem fora de compasso… E vou no enredo, penso no quanto me sinto o violão encostado na parede da sala. E que pra tocar vai ter de ser afinado antes. E quem sabe precise até de um novo encordeamento, pra vibrar melhor, né?

Montamos as escalas e acordes. Fim de aula. Aterriso: final da monotonia. Vendaval, o terremoto agora são nos meus sentidos. Tomo um pingado.Desço pra terceira avenida, caminhando pra digerir. Ali já avisto um negro alto de muita luz. Ele fala, em yorubá e sinto a força dos anjos. Já me derramo em lágrimas. Ali ao alcance: Akin. Filho do culto original, da península de Osun, na Nigéria. Professor de Yorubá, agradecemos juntos aquele encontro. Entre livros e utensílios ele fala da missão aqui no cerrado, da força do bem, da comunicação e da cultura. Ele é a mãe – áfrica num pedaço de homem. E todas minhas dores se curaram e uma chuva de gotas douradas lavaram.

Akin sabe do meu sonho de banho no rio, de caminhar pelo templo, da mamãe soberana, na sua terra matriz. Além de saber meus sonhos, começamos outros sonhos juntos. Fui coroada por muitas rainhas. Segui ao tempo, e lembrei de muitas intervenções da minha Deusa, em meus cursos, discursos e recursos.
De quando me levou por 5 dias pelas águas do Rio Negro, aquele espelho na superfície e banho âmbar no mergulho. A minha mãe Oxum que me acorda em sono, em sonhos, para dar de mamar a sabedoria. E sabedoria requer dedicação e humildade.

Sai do Akin saboreando os milagres candangos. Ali no Núcleo Bandeirante, onde candangos acamparam pra construir a nova capital. Bem por ai, decidida a construir um novo caminho com as maravilhas que me ofertam. Muita gratidão a ancestralidade e nossa conexão. Vale conferir a loja do Akin chama Oje Oja – o mercado da prosperidade – na terceira avenida, Núcleo Bandeirante – DF. Saravá !

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