mandinga

November 26, 2010

… fim da violência contra mulheres, em especial nos hospitais psiquiátricos !

Filed under: ALEGORIAS MANIFESTANTES,General,NA AVENIDA,PERSONAGENS — mandinga @ 5:47 am

Mandinga ! Passei meses acompanhando de perto este caso que relato abaixo. Muito pouco se fala sobre a realidade das mulheres nos hospitais psiquiátricos. Acompanhei MHRA durante as semanas que passou no HPAP no DF. Nestes dias ela foi humilhada, usada para experimentações da equipe médica do “hospital”, agredida, roubada e por fim, estuprada. Sem a menor chance de defesa. Por todas as que estão nos hospitais psiquiátricos, segue este relato. Ao combate ! #fimdaviolenciacontramulher

RELATO DE CASO – ” eu não sou tão biruta assim”

A MHRA, 39 anos, foi internada no Hospital de Pronto-Atendimento Psiquiátrico (HPAP) em Taguatinga – DF, no dia 12 de junho de 2010. Eu, SAL, sobrinha da paciente, sob orientação de um psiquiatra externo que iria consultá-la naquele dia, levei minha tia para avaliação no pronto-socorro do HPAP, pois há 3 dias estava muito agitada, agressiva, desorientada, logorréica, disártrica, sem dormir e sem se alimentar. Na ocasião ela fazia uso das seguintes medicações: Risperidona 3mg, Topiramato 150mg, Meleril 300mg, Trometazina 25mg e Dormonid 15mg (caso insone). Esse esquema terapêutico foi prescrito pelo psiquiatra da Mansão Vida que tinha dado alta a ela há 5 dias. O médico que nos atendeu no HPAP disse que seria necessária a internação para ajustar as medicações e tentar tirá-la da crise, e informou que normalmente seria uma internação breve.

Vale ressaltar que MHRA sempre apresentou um retardo mental, com dificuldades para o aprendizado formal da escrita e cálculos, porém sempre foi funcional para as atividades de vida diária, tranqüila, comunicativa. Ela tomava medicações controladas, mas sua mãe uma senhora de 83 anos, muito simples, achou que ela estava dormindo muito e engordando e sem consultar ninguém, retirou o Diazepan , motivando o início da crise que motivou a sua primeira internação. ela foi lavada à Mansão Vida porque seu irmão conseguiu um considerável desconto por ter sido segurança lá. Porém, quando ela c omeçou a dormir e a diminuir a agressividade, recebeu alta.

No HPAP, ocorreram vários fatos graves para sua segurança pessoal: seus pertences e roupas íntimas foram roubados, ela foi agredida por outra interna e teve sua prótese dentária roubada; recuperamos a prótese com outra interna em troca da promessa de uma carteira de cigarros; depois ela sofreu abuso sexual por parte de outra interna, inclusive observamos as marcas em seus seios. Questionamos a equipe sobre o fato ocoorido e recebemos como resposta que infelizmente não era possível controlá-las o tempo todo. O médico disse que era provável que tivesse ocorrido e que não seria nem a 1a, nem a útlima vez, pois as pacientes são mutio erotizadas.

Todos os dias íamos na visita e observávamos MHRA piorando. Solicitamos a alta, pois quando questionamos a sua não evolução, fomos informada de que ela na verdade, recusando os medicamentos via oral e que os medicamentos injetáveis não foram administrados porque estavam em falta. Mas, para nossa surpresa, ninguém solicitou que comprássemos esses medicamentos. E ao pedir a alta fomos informadas (eu e minha mãe) que a alta poderia ser concedida porém sem a prescrição médica. Achamos um absurdo, pois leigamente sabemos que um doente psiquiátrico não pode estar o tempo todo interrompendo e reiniciando novos esquemas terapêuticos.

Isso ocorreu no dia 24 de junho no final da tarde. O médico nos encaminhou para o serviço social, pois solicitamos então a possibilidade de acompanhá-la direto, alegando que ela não tinha nenhuma condição de defender-se dos riscos que estava exposta, pois seu retardo mental agora estava num grau grave. Após esperar uma hora, a assistente social saiu sem nos avisar por um motivo de emergencia. Mas outra funcionária conversou com alguém que autorizou o acompanhante para minha tia. Permaneci lá 5a, 6a, sábado e domingo até por volta de 20-21h, todos os dias. A enfermeira de plantão da sexta (25.06) estava preocupada com minha segurança em permanecer ali e pediu para eu conversar novamente com o médico de plantão sobre a possibilidade de alta a pedido.

Este médico, me disse que poderia conceder a alta e a prescrição na segunda-feira (28.06), caso ela viesse a aceitar e seguir a nova prescrição que ele faria. Tal prescrição consistia em 40mg de Olanzapina dividido em duas ofertas diárias, via oral, e Neozine a noite caso insônia. Comprometi-me a ficar lá pra ofertar os comprimidos pois a equipe referia que ela recusava quando eles ofertavam. Garantiu-me que os outros médicos não mudariam essa prescrição, mas me alertou que cada um tem um racicocínio diferente. Na 6a e no sábado a medicação veio certinha e a paciente aceitou sem dificuldades. Quando retornei ao HPAP no domingo cedo, fui me informar se ela havia tomado a medicação das 8h e para minha surpresa, não havia sido administrada pois estava em falta. Perguntei por que não me avisaram e pediram para comprar. Fiquei indignada, todos me viam ali, durante todo o dia; quando eu ia embora, avisava a equipe, mas ninguém avisou que faltaria o remédio novamente.

A enfermagem pediu para eu conversar com o médico de plantão mas me disse que aquela medicação estava errada para minha tia pois ela tinha retardo mental e que a medicação que tinha sido ofertada nos dias anteriores na verdade era de outro paciente. Achei completamente errado o que estava acontecendo e fui esclarecer com o médico. Eu estava bastante indignada e minha conversa com o médico não foi fácil; ele começou a gritar e estava visivelmente descompensado. Disse que não conhecia o caso da minha tia, que não acompanhava ela, que estava de plantão só de final de semana e que não podia fazer nada se o remédio havia acabado, que não podia adivinhar que eu poderia comprar a Olanzapina e já havia prescrito um novo esquema terapêuico.

Nessa altura minha tia já tinha tomado a 1a injeção de Aldol do dia, pois estava extremamente agitada. Após nós dois nos acalmarmos, ele prescreveu os medicamentos para eu comprar e propos um novo esquema com a Olanzapina, agora de 10mg ao dia, com Aldol de SOS para agitação, Ibupril para dor (ela está no período pré-menstrual) e Neozine caso insone. Coloquei todas as minhas queixas pontualmente a ele e novamente negociamos a alta a pedido. Ele me pediu para assinar o documento de alta a pedido. Assim eu o fiz, mas informei que só poderia retirá-la a partir de hoje, pois estava sem rede de apoio para onde levá-la. Ele concordou que eu poderia levá-la na segunda, mas avisou que seria outro médico que estaria de plantão. Este médico, também me orientou sobre a necessidade de fazer exames de investigação, pois ela poderia estar com alguma outra coisa causando dor e devido ao retardo e a esquizofrenia, ela não conseguiria expressar corretamente.

Perguntei se poderia colher o sangue lá, ele me informou que não tem laboratório no HPAP. Me orientou também sobre o risco da Olanzapina desenvolver diabetes e eu o informei que a mãe da MHRA é insulino-dependente. No decorrer daquele domingo, ela ficou muito mais agitada e precisou da 2a injeção de Aldol. Tomou o comprimido de Fernegan, sem dificuldade. Porém, o que ocorreu foi mais agitação, com mais confusão mental, circunlóquios, perseverações e heteroagressividade. Fui manejando com dificuldade para tentar avitar uma contenção. Deu certo. Sai de lá e outra tia (irmã da paciente) ficou com ela até 20h. Na segunda-feira, soubemos que durante a noite como a agitação aumentou, ela precisou ser contida. Durante o dia da 2a feira, ou seja, hoje, foi contida novamente e quando a acompanhante chegou, a encontrou toda urinada, amarrada na sala de contenção.

Minha família que estava se organizando para levá-la para casa e continuar o tratamento prescrito agora está com muito medo e acreditando que ela precisa ficar no “hospital”. Questionamos a possibilidade de uma transferência para um hospital onde possa ser realizado um investigação clínica e que um único esquema terapêutico seja seguido. Não consigo mais despensa no trabalho para acompanhá-la e outros membros da família também não conseguirão permanecer o dia todo com ela. Ela volta a ficar exposta a todos os riscos já relatados antes. Acaba agredindo e sendo agredida e levada para contenção, sem benefício nenhum, pois para ela não há aprendizado com essa punição. Porém, sabemos que se ela está lá sozinha a contenção ao mesmo tempo a protege e protege aos outros de novas agressões. Porém, não podemos descartar que a maneira como elas são contidas, já é uma agressão.

15 dias depois…

Seguimos na esperança de encontrar algum norte breve para ajudá-la e aliviar o seu sofrimento  e de toda família.Estamos desesperados! Minha tia foi contida duas vezes hoje. Numa delas se urinou toda. É desesperador porque não vou conseguir acompanha-la durante todo o dia pois tenho que trabalhar. Segue o relato que você me pediu. Mas, sinceramente, não temos mais intenção em deixá-la no HPAP. Conversei com minha sogra que é da secretaria de sáude de São Bernardo e ela me disse que suspeita que minha tia possa estar com hipotireoidismo agravando todo o quadro. minha tia nunca foi assim. Ela só está piorando!!! Já passou por tantos horrores nesse hospital que mais adoece do que trata. Desde a arquitetura até a interação com a equipe, tudo parece uma prisão. Não dá para ficar lá. Por favor, se for possível, você disse no email a Mirsa que se fosse caso de primeira crise sua equipe poderia acolhe-la. Pelo amor de Deus, passou excelentes recomendações sobre você e sua equipe. Nos ajude! Não nos deixe no HPAP. Refleti sobre sua proposta de tentar o ajuste medicamentoso no HPAP, mas imagino que isso deve levar dias e não poderemos acompanhá-la neste período. Já roubaram tudo dela: calcinha, vários pares de chinelo, a prótese dentária (que conseguimos recuperar), agressão física e inclusive ocorreu o relato de que  ela havia sido molestada sexualmente …. Vimos as marcas nos seios dela. Questionamos à equipe, mas ninguém viu nada e nem tem como eles verem, pois só saem daquele posto de enfermagem para medicar, conter ou avisar que é hora do lanche. No restante do tempo assistem À Tv na copa do posto.

Não sei se seria possível, mas qual seria a possibilidade do psiquiatra de sua equipe nos ajudar a fazer o ajuste da medicação em casa? Ou dela ser transferida para outro hospital?
Mais uma vez clamo a você por ajuda, que seja orientação sobre o que fazer. Mas que não seja permanecer no HPAP, pois ela não tem condições de ficar lá sozinha, agressiva, perdida nela mesma, contida de forma bruta quase que punitiva. Como ela disse ontem para mim “Eu não era biruta assim” em meio a muito choro, desespero e a crença de que vai morrer lá.

Obrigada pela sua solidariedade e compromisso em responder minhas ligações,
Abraço,
SAL

* * *

depois de muita mandinga MHRA está em casa. Mas, não esquece a violência da internação. Todas as pacientes se queixavam da prisão. Muitas sofreram violência dos maridos e amantes ao longo da vida. A sexualidade e a espiritualidade são os assuntos que mais “enlouquecem” suas trajetórias…

Brasília, 25 de novembro de 2010

November 5, 2010

Essa é a Ellen Oléria . Reversa ! Minha mana-mestra, segue a rima:

Filed under: General,NA AVENIDA — mandinga @ 3:09 am

SAlve !

a minha nova poesia é antiga poesia, eu me vi sozinha, força feminal aha

escrevo sem ter linha, escrevo torto mesmo. Escrevo torto, eu falo torto, pra seu desespero. é só minha poesia, antiga poesia, repito, rasgo, colo poesia, eu nao sou mais menina, a minha poesia é poesia combativa

a banda é feminina, a luta é feminina

salve as negras do sertões, as negras da bahia, salve ! Clementina, Leci e jovelina, salve ! nortistas, caribenhas, clandestinas, salve negras da américa latina

A baixa autoestima da dona maria, da sua filha, da sua prima e sua vizinha, isso me alucina, isso me intriga e vc não entende o que significa FE-Mi-NIS-TA ?

Tive que trabalhar, não pude parar, guerreira, estradaria, capoeira, na ginga
disseram pra neta, que a vó vai pirar analfabeta, com dor doida acaba, mas ela NAO !

minha vó formou na vida, nunca soube o que é reprovação. Eis a questaaao !

November 3, 2010

aruandanças

Filed under: General,NA AVENIDA — mandinga @ 3:46 am

Aruandanças

Filed under: General,NA AVENIDA — mandinga @ 3:40 am

October 29, 2010

aruandanças

Filed under: General,NA AVENIDA — mandinga @ 6:59 am

Basta ser honesta, e desejar profundo ! dedicação ao amor !

October 21, 2010

Acordes

Filed under: General,NA AVENIDA — mandinga @ 7:39 am

Mais um encontro para estudos com a mestra Ellen Oléria. Me impressiona a didática, me impressiona o canto espontâneo solto na fala, me impressiona o cuidado comigo e consigo, me impressiona a leitura de mundo. Ela conta um caso lindo sobre o pai, daquele jeito que só quem traz no peito o bom da vida sabe contar…

Hoje, o preto velho me impressionou. Me perguntou como está meu coração . Eu respondi que de tanto apanhar não consegue nem ficar em pé. Daí ele disse, quem tem muito amor pra dar sempre se levanta. Tens muito pra dar, apenas isso. Muito amor pra servir. Quem cai é quem não tem nada no peito, a ponto de nem conseguir receber, perceber… nem se conectar com o essencial.

Mas, voltando pra Ellen essa preta velha nova. Diva no meu tempo. Desde que a terra tremeu em nosso primeiro encontro para estudos musicais, seguimos marcando a sintonia em surpresas incríveis.

Com ela saio do espaço. A Ellen me leva a muitos lugares. Acessamos poucas fronteiras, tem coração, reflexão, qualidade e tesão em música. Ela “É” daquilo… Ali dedilhando as horas vou com ela das emoções abertas aos valores fechados. Temos regras: a de nos expressar pelo toque,e de nos alimentarmos em cantos. Com ela eu brinco o encantado ! (Aliás vo fazer um outro parêntese sobre essa expressão – minha amiga Rai costuma me perguntar se vou brincar o encantado, quando quer se referir as minhas idas ao terreiro. Muito bom ver a espiritualidade ser significada como uma brincadeira… encantada, ponto ao Norte). E se no primeiro encontro Ellen me fala até dos caruanas (entidades encantadas das águas do marajó – PA) nesse ela me traduz que musicalidade na vida passa por instrumento de ritmo, de melodia e de harmonia.

Nossa bastou isso preu decolar em metáforas! Do quanto era da harmonia, enquanto meu bem quando se tocava era pra marcar ritmo. E bem fora de compasso… E vou no enredo, penso no quanto me sinto o violão encostado na parede da sala. E que pra tocar vai ter de ser afinado antes. E quem sabe precise até de um novo encordeamento, pra vibrar melhor, né?

Montamos as escalas e acordes. Fim de aula. Aterriso: final da monotonia. Vendaval, o terremoto agora são nos meus sentidos. Tomo um pingado.Desço pra terceira avenida, caminhando pra digerir. Ali já avisto um negro alto de muita luz. Ele fala, em yorubá e sinto a força dos anjos. Já me derramo em lágrimas. Ali ao alcance: Akin. Filho do culto original, da península de Osun, na Nigéria. Professor de Yorubá, agradecemos juntos aquele encontro. Entre livros e utensílios ele fala da missão aqui no cerrado, da força do bem, da comunicação e da cultura. Ele é a mãe – áfrica num pedaço de homem. E todas minhas dores se curaram e uma chuva de gotas douradas lavaram.

Akin sabe do meu sonho de banho no rio, de caminhar pelo templo, da mamãe soberana, na sua terra matriz. Além de saber meus sonhos, começamos outros sonhos juntos. Fui coroada por muitas rainhas. Segui ao tempo, e lembrei de muitas intervenções da minha Deusa, em meus cursos, discursos e recursos.
De quando me levou por 5 dias pelas águas do Rio Negro, aquele espelho na superfície e banho âmbar no mergulho. A minha mãe Oxum que me acorda em sono, em sonhos, para dar de mamar a sabedoria. E sabedoria requer dedicação e humildade.

Sai do Akin saboreando os milagres candangos. Ali no Núcleo Bandeirante, onde candangos acamparam pra construir a nova capital. Bem por ai, decidida a construir um novo caminho com as maravilhas que me ofertam. Muita gratidão a ancestralidade e nossa conexão. Vale conferir a loja do Akin chama Oje Oja – o mercado da prosperidade – na terceira avenida, Núcleo Bandeirante – DF. Saravá !

vem de aruanda

Filed under: General,NA AVENIDA — mandinga @ 7:30 am

Uma linda Lenda Yorubá

riquezas de uma tradição oral de 18 mil anos!

“Conta uma tradição oral de matriz africana que no principio havia uma única verdade no mundo. Entre o Orun (mundo invisível, espiritual) e o Aiyê (mundo natural) existia um grande espelho. Assim tudo que estava no Orun se materializava e se mostrava no Aiyê. Ou seja, tudo que estava no mundo espiritual se refletia exatamente no mundo material. Ninguém tinha a menor dúvida em considerar todos os acontecimentos como verdades. E todo cuidado era pouco para não se quebrar o espelho da Verdade, que ficava bem perto do Orun e bem perto do Aiyê.

Neste tempo, vivia no Aiyê uma jovem chamava Mahura, que trabalhava muito, ajudando sua mãe. Ela passava dias inteiros a pilar inhame. Um dia, inadvertidamente, perdendo o controle do movimento ritmado que repetia sem parar, a mão do pilão tocou forte no espelho, que se espatifou pelo mundo. Mahura correu desesperada para se desculpar com Olorum (o Deus Supremo).

Qual não foi a surpresa da jovem quando encontrou Olorum calmamente deitado à sombra de um iroko (planta sagrada, guardiã dos terreiros). Olorum ouviu as desculpas de Mahura com toda a atenção, e declarou que, devido à quebra do espelho, a partir daquele dia não existiria mais uma verdade única.

E concluiu Olorum: “De hoje em diante, quem encontrar um pedaço de espelho em qualquer parte do mundo já pode saber que está encontrando apenas uma parte da verdade, porque o espelho espelha sempre a imagem do lugar onde ele se encontra”.
Portanto, para seguirmos a vontade do Criador, é preciso, antes de tudo, aceitar que somos todos iguais, apesar de nossas diferenças. E que a Verdade não pertence a ninguém. Há um pedacinho dela em cada lugar, em cada crença, dentro de cada um de nós.”

May 23, 2008

Racismo aqui e acolá, na escola Waldorf não vamos mais ficar …

Filed under: ALEGORIAS MANIFESTANTES,General — mandinga @ 7:04 am

Saravá, minha gente !

             Hoje participamos da
palestra Fundamentos e Aplicações da Pedagogia Waldorf, na Escola Moara, aqui
em Brasília. Não nos surpreendemos em, mais uma vez, não obtermos uma resposta
que escape do plano metafísico sobre mecanismos disciplinares utilizados pelas professoras
e os castigos aos quais nosso filho é submetido na escola, muitos destes
sequer somos informados.Bem como, mais uma vez, nos foi dada uma resposta
metafísica sobre o fato de muitas crianças não terem lugar de fala garantido no
cotidiano escolar, quando relatam, por exemplo, o desagrado com o corpo
docente, ou a rotina escolar.

             Agora o que mais nos surpreendeu,
na ocasião, foi a absoluta ausência de ações para  implementação da lei 11.645/08 na perspectiva
pedagógica da Moara (a referida Lei  prevê a inclusão de conteúdo afrobrasileiro  e indígena nos currículos escolares) . Tal
fato, confirmou  conjunto de ações que
presenciamos em prol da  omissão e 
censura  na  criação de um processo  coletivo  que aborde
este tema. O que significa uma irresponsabilidade da comunidade escolar,para
com a luta contra o racismo.

              Camuflada  no tecido social ao qual se insere a
comunidade da Moara, a prática  do
racismo, sempre foi para  nossa família
uma das formas mais cruéis de humilhação 
da existência humana. E  a luta
para que esta forma de violência, na maioria das vezes sutil e imperceptível,
não se perpetue em nossa sociedade é prática cotidiana em nossas  vidas. Portanto, esta Lei pela qual lutamos é
de fundamental importância tanto para nossa família, quanto para sociedade que buscamos
construir.   

               Antes de entrarmos na escola, já
sabíamos do fato das crianças, até certa idade , não utilizarem preto enquanto
desenham, pois o Preto é a ausência de cor na perspectiva antroposófica. Mesmo assim,
resolvemos fazer parte da comunidade Moara, depois de insistirmos que  a depreciação da diversidade racial e cultural
brasileira é incabível em nosso cotidiano e de ter –nos sido garantido o respeito
a nossa prática de vida muito ligada as nossas 
raízes afrobrasileiras e indígenas, a qual nos orgulhamos muito.

               Em 2007,  tomamos conhecimento de que em uma outra palestra
uma professora afirmou que não havia conteúdo indígena porque na Moara eles só
ensinavam conteúdo de povos evoluídos. O fato 
nos indignou, tamanha a  demonstração de ignorância para com as
centenas de povos que formam  o povo
brasileiro. E muitos dos quais vivenciaram na prática  valores matriarcais, horizontais e de autogestão.

            
  Valores estes que são
transformados em conceitos e alienados dentro da Escola Moara, que por exemplo,
prega o consenso em suas instâncias, mas esquece que o mesmo deve ser
construído e não imposto. Justamente, neste ponto é que a Escola é  um simulacro: ao negar o contexto social ao
qual se insere e dissimular sobre seus reais desafios para com sua comunidade.
Pois, todo processo comunitário  requer
construção e sem comunicação e responsabilidade para o bem comum, pouco se
constrói.

                  Hoje, infelizmente,
presenciamos mais um episódio nesse sentido na Escola Moara. Não bastasse ser
um episódio racista, portanto criminoso, foi também mais uma oportunidade de
garantir a fala de quem já tem o lugar de fala garantido (reforçando autoritarismo) e de
claro simulacro de prática dos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade tão citados pela tal filosofia antroposófica.Pois,
acompanhamos recentemente, em nossa turma, a saída cruel de dois meninos, por
falta exatamente de mais fraternidade, igualdade e liberdade na referida
comunidade. Após a explanação das palestrantes, quando fiz perguntas objetivas
sobre o cotidiano escolar, tais como as medidas disciplinares aplicadas, o
lugar de fala das crianças e a implementação da Lei 11.645,  fui em um tom de voz arrogante, convidada a
mudar para a pedagogia construtivista, pelo Dr. Paulo Tavares.

                    Como naquela manhã de
sábado resolvi me dedicar a entender a pedagogia Waldorf insisti em  construir um espaço qualificado de debate
sobre a tal perspectiva que nossa família estava inserida e ajudando a dar vida.Reforcei que não estava ali para debater o construtivismo e sim a
pedagogia Waldorf. Quando questionei sobre o ensino do conteúdo afrobrasileiro
e indígena na escola (que reforçamos, não é uma opção da Moara,mas sim,uma Lei,
um dever, uma obrigação) nos foi dada a seguinte resposta pela
professora palestrante :

                  "No primeiro ano
contamos apenas contos de fadas, no segundo ano contamos historinhas sobre
passar a perna no outro, estas coisas mais maliciosas…, no terceiro ano
começamos com as histórias dos bichos, no quarto introduzimos  as histórias dos monstros e a partir do quinto
ano é que contamos as histórias dos negros "

                 Fiquei bastante
intrigada com esta escala de valores.E recebi a seguinte resposta: é que até
esta fase a criança só pode receber o que é Belo. Ou seja, mais uma vez, a
depreciação à cultura indígena e afrobrasileira é socialmente difundida e
reforçada na escola. Pois, toda infinita diversidade e possibilidade de
conteúdo da nossa cultura é considerada desprovida de beleza  compatível
com  a praticada na Escola Moara. (Aqui cabe um parêntese, não falaremos
da pedagogia Waldorf, mas da experiência prática que vivenciamos)

                  Portanto, gostaríamos
de reforçar que racismo é crime. E  não compactuamos, com o fato de em
2008, estes resquícios da subjetividade paternalista colonizadora européia que
– subjulga a beleza e força da nossa raiz racial e cultural – estarem vivos e
legitimados, disfarçados de proposta pedagógica.

                    Em determinada parte do
debate fomos surpreendidos  com mais uma
frase do Dr. Paulo Tavres: “é por isso que essa pedagogia não é pra vocês”.
Finalmente um consenso, ainda que imposto, e portanto ilegítimo. Nos desligamos
da escola Moara com São Benedito em nossos corações.E  na responsabilidade de impedir que este tipo
de prática se perpetue disfarçada de pedagogia alternativa. Aliás, justificativas
metafísicas para garantirem práticas racista no contexto escolar, me remetem ao
tempo em que os povos africanos e indígenas eram escravizados perante a
justificativa de que esta seria a salvação de suas almas…

                Enfim,
muitas questões para refletirmos e nos posicionarmos.

Aquele abraço,

Juliana, Bruno e João Pedro

 

March 19, 2008

Ladja, El mani, Capoeira = reverberações do N’golo da África Banto

Filed under: General,NA AVENIDA — mandinga @ 1:04 am

« Newer Posts

Powered by R*